Maior líder dos All Blacks, McCaw se aposenta no auge após título mundial
UOL Esporte
Por Bruno Romano
Último ato: capitão Richie McCaw levanta a taça da Copa do Mundo 2015 com a Nova Zelândia (Crédito: Paul Gilham/Getty Images)
Que bom devia ser olhar para o lado no campo e ver Richie McCaw com a mesma cor de camisa de que a sua. A chance de vocês comemorarem juntos depois do jogo era enorme. Só pelo All Blacks, a seleção de rúgbi da Nova Zelândia, foram 131 vitórias em 145 jogos, marca que nenhum outro jogador sequer passou perto – atuando em seu país, Richie perdeu apenas duas vezes em 61 partidas com a camisa negra.
O último triunfo (e também a chance final de ver McCaw em ação) foi na decisão do Mundial de Rúgbi 2015, vencido pelos neozelandeses. Nesta quinta, quase três semanas depois do título, o capitão anunciou a já esperada despedida dos gramados aos 34 anos.
Seu último jogo também marca outro recorde que não vão tirar de McCaw tão cedo. O camisa 7, criado em Christchurch (ilha sul da Nova Zelândia), com família de origem escocesa, foi o único atleta a levantar a Webb Ellis Cup, a taça da Copa do Mundo, duas vezes (2011 e 2015).
Jogador de um só time em toda carreira, o Crusaders, McCaw capitaneou os All Blacks 110 vezes – e foi o primeiro rugbier a completar 100 partidas por uma seleção na história do esporte.
Só que os maiores feitos de McCaw, na verdade, não são individuais. Escondida atrás de números e recordes está sua capacidade de liderar (sob muita pressão) o melhor time do mundo.
Como todo bom terceira-linha, ele se sobressaia no físico, na bravura e na inteligência em campo. Mas se diferenciava mesmo no forte caráter, na tolerância para tomar pancada, e na capacidade de se adaptar, a cada jogo e as novas regras do esporte.
Com Richie de capitão, a vitória podia não ser garantida 100 %, mas era certeza de que o time nunca iria se entregar, nem entrar em colapso. Esse é seu grande legado, depois de perder com os All Blacks para França no Mundial de 2007 e trilhar o caminho da glória com duas Copas do Mundo seguidas em 2011 e 2015.
Direto nas ações e nas palavras, Richie pode ser entendido com uma frase célebre de sua carreira. “Não há nenhuma mágica nisso tudo, a questão é fazer bem o seu trabalho quando mais precisam de você”, dizia sobre o papel de capitão da melhor seleção do mundo.
Na hora de se despedir do rúgbi, McCaw também foi mestre. Explicou que preferiu não fechar as portas antes da Copa do Mundo terminar. “A emoção de deixar o rúgbi poderia me atrapalhar no Mundial. Eu ia ficar pensando em último isso, último aquilo”. É mais: “Eu também queria que tudo o que acontecesse na Copa estivesse ligado ao time, e não a uma ou outra pessoa”. Já deu pra entender bem por que o cara é diferente.
Com sua missão final cumprida, Richie passou mais duas semanas e meia refletindo antes de encerrar esta parte da sua história. Ele deixa o rúgbi com méritos que, quem acompanha o esporte, já deve saber: 145 jogos pelos Crusaders, com direito a quatro títulos de Super Rugby, além de dez troféus de Tri Nations (e Rugby Championship). E, claro, três vezes eleito o melhor do mundo: 2006, 2009 e 2010.
Mas também guarda histórias nem tão faladas: fora de campo, é piloto de ultraleve e co-autor da biografia de rúgbi mais vendida de todos os tempos, “The Open Side”, livro de 2012. Mesmo conhecido pela liderança e ótima defesa, guardou 27 tries pelos All Blacks, mais do que qualquer forward na história da seleção. Na sua estreia, aos 20 anos, em 2001, jogando em Dublin, foi eleito o homem do jogo contra a Irlanda – os All Blacks venceram a partida, claro.
A partir de hoje – além de descansar um pouco e passar na funilaria – o ex-capitão All Black vai se dedicar a compromissos com patrocinadores pessoais e atividades solidárias, além de tocar um negócio próprio na área de esportes.
Um novo começo para o maior líder (e maior vencedor) dos All Blacks de toda história. E talvez o que melhor definiu o que é ser um All Black: “A questão não é vestir essa camisa, é preenchê-la, amando cada minuto que estiver com ela”. Richie cumpriu sua palavra. Deixou seu legado. E, com a nova geração neozelandesa, pode deixar o gramado tranquilo.
Um dia depois da morte da Lomu, McCaw se despede e homenageia a lenda, com quem jogou cinco partidas pelos All Blacks (Crédito: Ross Land/Getty Images)