Nova política “linha-dura” em lances perigosos gera polêmica no rúgbi
UOL Esporte
Por Bruno Romano
A ideia de pegar mais pesado na punição de lances perigosos de contato – nova determinação da World Rugby para todo o mundo em 2017 – tem dado o que falar.
Para começo de conversa, vale lembrar: não há nenhuma ''nova regra'' de fato no rúgbi. Junto de uma séria de ''leis experimentais'', propostas neste começo de ano para dar ainda mais dinamismo e segurança ao jogo, a entidade máxima do esporte criou um novo protocolo para situações de duelos diretos de contato físico.
E como toda a questão deste tipo passa por uma rápida e subjetiva análise da arbitragem, o debate só tem aumentado a cada novo lance dentro de campo (leia-se: jogos decisivos no centro mais rico do rúgbi no planeta, a Europa).
Para ficar mais claro o caminho das mudanças, a linha dos ombros segue como limite para altura de um tackle, o movimento legal usado para derrubar um adversário. O que a World Rugby fez, resumindo, foi criar as categorias ''imprudente'' e ''acidental''. A primeira deve ser punida com penalidade e cartão amarelo ou vermelho, segundo interpretação da gravidade do lance pelo árbitro. A segunda, apenas com penalidade e uma conversa dura com o jogador.
Na prática, a pressão sobre os árbitros já aumentou, assim como a incidência de cartões. Há um consenso de que o tema precisava mesmo ser revisto, mas as novas diretrizes acabaram deixando nas mãos de jogadores (e de seu treinadores) descobrirem como se adaptar lance a lance.
A ideia de instigar tackle mais baixos – teoricamente mais ''seguros'' – tem trazido à tona o risco de aumento de contato com cotovelos e joelhos de quem ataca um defensor com a posse da bola. O resultado pode gerar um efeito colateral, até aumentando a chance de lesões.
Na mesma via de pensamento, há quem indague se os próprios atacantes nos duelos mano a mano não passarão a buscar o contato mais baixo, surgindo uma nova e delicada área de interpretação (também suscetível a contusões).
Sem falar que em alguns momentos do jogo é impossível não fazer algum contato com a cabeça do adversário. É o caso das tentativas de try perto da linha, quando jogadores se revezam agarrando a bola do chão e mergulhando rumo ao alvo, no chamado ''pick and go''. O lance, extremamente comum em todos os níveis de rúgbi, acaba ficando em um perigoso ''ponto cego'' nas novas determinações.
O que aparenta ser uma boa época para mudanças nas leis, pelo início do ano, na verdade não é. O hemisfério sul ainda vai ter um pouco mais de tempo para analisar melhor tudo isso, mas os principais clubes da Europa estão em fase decisiva de campeonatos nacionais e continentais – e é em cima destas partidas que as dúvidas e discussões estão aumentando.
A grande preocupação por trás de tudo isso segue rondando o tema das concussões, as pancadas na cabeça que podem gerar um apagão momentâneo, além de problemas futuros em caso de maior frequência.
Some a isso o evidente aumento da capacidade física dos jogadores, logo a força dos impactos, junto da maior qualidade das transmissões de rúgbi, se espalhando pelo mundo em alta definição, para chegar a simples conclusão de que imagens de pancadas sem um final feliz não ajudam em nada na popularização e aceitação do esporte.
Ainda que o debate esteja só começando, a ideia geral não pode ser esquecida: tentar sempre adaptar as regras e evoluir em prol de um esporte ainda mais justo, respeitoso e com menos chances de contusões.
De imediato, a novas decisões em lances de contato podem acabar definindo nos próximos meses os campeões dos maiores torneios na Europa, entre clubes e seleções. É por isso que o assunto ainda vai esquentar, antes de pegar fogo de vez quando a nova temporada de Super Rugby começar. O futuro ainda é incerto, mas promete ser o começo da próxima grande revolução do rúgbi moderno.