O Blog do Rúgbi

Azarã no rúgbi, Espanha superou desconfiança e até um ciclone por Rio-2016

UOL Esporte

Espanhois da seleção de Sevens ajudam fijianos durante passagem do ciclone Winston

Espanhois da seleção de Sevens ajudam fijianos durante passagem do ciclone Winston

Por Bruno Romano

Nenhum caminho rumo a elite do rúgbi nesta Olimpíada foi tão desafiante como o da Espanha. A última classificada para os Jogos, tanto na chave masculina como na feminina, passou por cima da descrença geral e surpreendeu o mundo ao garantir seu posto entre as seleções que vão celebrar a volta do esporte à competição após 92 anos.

O feito esportivo em si esconde histórias incríveis. A maior delas foi vivida pela seleção masculina, em preparação para a repescagem mundial – um duro torneio de 16 equipes, disputado no último mês de junho, que brindava apenas ao campeão uma vaga no Rio.

O cenário da aventura espanhola era Fiji, no meio do oceano Pacífico. O roteiro envolvia uma série de jogos e treinamentos pesados, com alguns custos pagos até pelos próprios jogadores. O objetivo era muito claro: chegar voando na repescagem e carimbar o passaporte para os Jogos. Acontece que um ciclone estava no caminho.

Pouco depois de se instalar no país que é sinônimo de rúgbi Sevens, e um dos grandes favoritos ao ouro na Rio-2016,  os espanhois presenciaram os primeiros sinais da chegada de um potente ciclone que acabaria devastando grande parte das ilhas.

O grupo logo se uniu. Voltar imediatamente para casa e não perder o período chave de treinamento seria a escolha mais óbvia. Mas a decisão foi exatamente o contrário.

Em unanimidade, toda a equipe optou por ficar no país e ajudar a minimizar os estragos do fenômeno natural, que se mostrou impiedoso nos dias seguintes. Cenas dos espanhois trabalhando em conjunto com os locais, carregando imensos sacos de areia e formando barreiras na faixas de praia podiam ser vistos em fotos e imagens tremidas de vídeos de celular.

Muito do que aconteceu naqueles dias só tem registro na memória de cada jogador que viveu intensamente tudo aquilo. Uma história improvável, mas que carrega em si a essência do rúgbi. Se a ideia era fortalecer o grupo, impossível pensar em um momento melhor.

As diversidades levaram essas pessoas a seus limites físicos e emocionais. Difícil acreditar que, sem a unidade do time, todos teriam transformado aquela possível tragédia em uma história que vai servir de inspiração para toda a vida.

Não tivesse a Espanha vencido a favorita Samoa na final da repescagem, com um try na última bola e já com o tempo estourado, este texto não estaria relembrando os tempos duros em Fiji. Pouco importa.

A decisão de encarar de cabeça erguida um momento difícil, lado a lado com os mesmos fijianos que os ajudariam a se tornarem atletas mais fortes, vale muito mais do que qualquer classificação ou medalha. Isso é que o fica de verdade.

Ter a vaga garantida de forma tão intensa e dramática, também dentro de campo, foi o reflexo e a recompensa desta jornada – as mulheres também derrubaram favoritas para chegar ao Rio. Talvez a seleção espanhola, com chances mínimas de pódio, passe a ser lembrada lá na frente somente como uma das seleções parte deste momento histórico do rúgbi.

Mas estes doze jogadores que entrarão em campo em Deodoro (RJ) daqui a alguns dias sabem bem o que significa estar ali. Independente dos resultados, eles vão ter para sempre uma história muito boa para contar. O mundo do rúgbi e a população de Fiji agradecem.

CICLONE FIJI