Invicta Irlanda dá aula de rúgbi, e coloca a França diante dos All Blacks
UOL Esporte
Por Bruno Romano
Só três seleções seguem imbatíveis na Copa do Mundo mais equilibrada de todos os tempos. As bicampeãs Nova Zelândia e Austrália, e a Irlanda, que venceu neste domingo a França (24-9), pela primeira vez na sua história em confrontos diretos em mundiais.
Atuais bicampeões europeus, os irlandeses pintam como grande potência do hemisfério norte na fase de mata-mata. Agora é hora de medir o tamanho desta força com os gigantes do sul.
Este sonho irlandês de vencer seu primeiro Mundial começa pra valer com uma encrenca nas quartas-de-final: os embalados Pumas argentinos.
Enquanto isso, a derrotada França terá a dura missão de enfrentar os All Blacks neozelandeses. Na última final de mundial, em 2011, os homens de preto levaram a melhor sobre os franceses por apenas 8-7.
Voltando ao mundo dos invictos, qualidades bem diferentes trouxeram os três imbatíveis até aqui. A Austrália tem um time jovem, forte e equilibrado. Os All Blacks, que só aceleraram até a terceira ou quarta marcha, revelaram muita técnica, visão de jogo e frieza sob qualquer tipo de pressão – fortalezas de um time extremamente experiente.
Já a Irlanda tem na sua base vários princípios do rúgbi: apoio, continuidade e trabalho em equipe. Este último se confirma até mais na defesa do que no ataque.
Até aqui só tomaram dois tries em quatro jogos (ou 320 minutos de batalhas intensas), contra o Canadá e a Romênia. Diante de Itália e Irlanda, os verdadeiros desafios do grupo, ninguém incomodou o in goal irlandês.
A vitória neste jogo decisivo contra a França dá muita moral, mas as avarias da guerra assustam, já que três titulares deixaram o jogo de hoje com contusões feias: O camisa 10, articulador e artilheiro Jonathan Sexton, o capitão, líder histórico e coração do time Paul O’Connell, e a máquina de tackles Peter O’Mahony.
Até por isso, os irlandeses que sobreviveram a pancadaria (esportiva e leal) de hoje vibraram muito com o triunfo e o primeiro lugar do grupo. Alguns jogadores até desabaram de choro após o apito final.
Mesmo com tantos feridos, a Irlanda mostrou qualidades demais para terminar essa história assim.
Irlandeses e argentinos acabam de formar as quartas-de-final mais equilibrada e imprevisível do Mundial.
Pumas ferozes
A Argentina pode não fazer parte do clube dos imbatíveis desta Copa – perderam para os All Blacks na estreia, em jogo equilibrado. Mas os Pumas estão voando, provavelmente na melhor forma de sua história.
No massacre contra a Namíbia (64-19) que a abriu a rodada deste domingo, mostraram que tem força para pelo menos repetir (e quem sabe superar) o terceiro lugar de 2007, a melhor classificação de uma seleção sul-americana na história das Copas.
Com onze mudanças, os reservas argentinos não só deram conta do recado, como mantiveram o altíssimo nível. Quando os titulares entraram na metade do segundo tempo, o baile já estava armado. Foram nove tries, seis deles nos 40 minutos finais.
Se o poder de fogo no ataque impressiona, a defesa preocupa. Mesmo contra a Namíbia – seleção que nunca somou um ponto em Copas do Mundo na história – tomaram três tries. Já está claro para os adversários da Argentina que há espaço para invadir.
Se os rivais daqui para frente vão conseguir fazer isso, já é outra história. Não custa lembrar que Pumas entraram em uma nova era da sua história.
Eles entenderam que só os “huevos” não bastavam. A garra e a raça ainda são seus maiores trunfos, mas nos últimos anos eles foram atrás de qualidade. E encontraram.