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Tarde demais: eliminada Inglaterra detona Uruguai, mas dá adeus ao Mundial

UOL Esporte

Em clima de despedida, o inglês Jack Nowell fez sua estreia em mundiais com três tries

Em clima de despedida, o inglês Jack Nowell fez sua estreia em mundiais com três tries

Por Bruno Romano

Era para ser uma festa inglesa. Seleção classificada, passeando contra o Uruguai e encaixando o ritmo de jogo para a fase de mata-mata.

O passeio aconteceu mesmo (60-03), mas sob um forte clima de melancolia e despedida da pior participação de um anfitrião de Copa do Mundo em todos os tempos.

Ainda que a euforia da torcida, em respeito a história do rúgbi no país, tenha mostrado exatamente o contrário. O capitão inglês Chris Robshaw chegou a dizer que foi a melhor atmosfera de estádio em que já jogou na vida.

Talvez pelo tamanho da confiança inglesa antes do torneio, o protocolo levou a taça William Webb Ellis para a entrada dos times em campo. É o mais perto, porém, que a campeã do mundo de 2003 chegou do troféu desta vez.

Nesta precoce despedida do torneio ficou clara a diferença de velocidade (de pernas e pensamento) de uma seleção de ponta contra uma equipe praticamente amadora – vários uruguaios dividem o tempo dedicado ao esporte com empregos normais.

A superioridade também podia ser medida em peso. Entre os grupos de forwards (números 1 a 8) havia uma diferença de pelo menos oitenta quilos, somando todos os brutamontes. A experiência internacional, mais difícil de ser calculada, também fez muita diferença.

No contexto geral, no entanto, a Inglaterra foi a seleção mais jovem desta Copa: 26,2 anos de média – com 25 aparições pela seleção por jogador (também em média). O treinador Stuart Lancaster, que optou por esse time jovem, reconheceu que a experiência fez falta.

Para Lancaster, a derrota para Gales (28-25) doeu muito mais do que o revés para a Austrália (33-13). Os ingleses terão bastante tempo agora para discutir tudo isso. O próprio comandante disse que vai refletir sua permanência (tem contrato até 2020), e que quer ouvir o que a união inglesa tem a dizer.

A pressão pela sua saída é grande. E vem de todos os lados.

Parte da imprensa inglesa chama o cenário de “quatro anos de fracasso”. Neste período, a Inglaterra ficou com quatro vice-campeonatos no Seis Nações, principal torneio de seleções europeias.

Desde que a Inglaterra venceu a Copa do Mundo em 2003, aliás, a seleção só faturou um Seis Nações. De lá para cá, França e Gales já levaram quatro títulos – e a Irlanda outros três, no importante torneio anual.

A crítica principal é que a Inglaterra não conseguiu transformar em resultado tantos recursos – financeiros e humanos. Nas últimas temporadas, a união inglesa de rúgbi levantou mais verba com o esporte do que as uniões da Nova Zelândia, África do Sul e Austrália juntas.

É claro que muito se pode dizer sobre a eliminação Inglaterra – e as análises ainda vão se multiplicar. A única certeza é que os jogadores não eram bons o suficiente para a missão. E foram superados por duas forças realmente maiores.

Gales os venceu no caráter, na coragem e no trabalho em equipe. A Austrália foi melhor técnica e fisicamente.

Por enquanto, há duas coisas para se contentar: o terceiro lugar no grupo garante a Inglaterra no próximo Mundial, sem precisar de eliminatórias. Além disso, a despedida reuniu uma torcida que lotou o estádio e reverenciou a seleção em Manchester – mesmo sendo um local menos popular do rúgbi no país.

Era para ser uma festa inglesa. Pelo menos hoje, em Manchester, foi.

A eliminação inglesa não afastou a animada torcida que lotou o Etihad Stadium em Manchester

A eliminação inglesa não afastou a animada torcida que lotou o Etihad Stadium em Manchester

DICA DO DIA: Programe os próximos três fins de semana. Depois da rodada deste domingo, a Copa do Mundo funciona assim: durante a semana, descanso total. Nos fins de semana, a bola oval toma conta da Inglaterra com as quartas-de-final (17 e 18 de outubro), as semifinais (24 e 25), a disputa do bronze (30) e a grande final (31).

O CARA: Bernard Foley. Até poucos meses, o camisa 10 dos Wallabies era o performático Quade Cooper. Mas Ben Foley assumiu o posto com convicção. Contra Gales, neste sábado, ele fez todos os pontos do time.

A IMAGEM:

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O capitão inglês Chris Robshaw lidera a Inglaterra contra o Uruguai. No primeiro plano, a taça William Webb Ellis – os ingleses só terão nova chance de tocá-la no Mundial de 2019.

A FRASE: “A defesa da Austrália hoje foi incrível. Mesmo assim, estou orgulhoso do nosso time. Nós estamos prontos para encarar qualquer um que estiver na nossa frente”, Sam Warburton, capitão do País de Gales, comentando a derrota para os Wallabies e a classificação para as quartas-de-final.

LONDON EYE: Radar ligado para a rodada completa de domingo do Mundial. Destaque para França x Irlanda (12h45), que vale a liderança do grupo “D”. Quem ganhar, pega os Pumas argentinos nas quartas-de-final. Quem perder, vai ter de encarar a Nova Zelândia.

Com os resultados deste sábado, Argentina x Namíbia (8h30) e Estados Unidos x Japão (16h) já não valem nada para a disputa do torneio.

Os argentinos devem atropelar a cansada Namíbia, que perdeu para a Geórgia na última quinta-feira. O Japão deve provar a boa fase e se despedir em alta.

Itália e Romênia (10h30) prometem um jogo pegado. Quem levar a melhor, termina em terceiro do grupo “D” e comemora a vaga garantida para o Mundial de 2019 no Japão.