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Japão arrasa terceira vítima e confirma “nova era”, mas se despede da Copa

UOL Esporte

Por Bruno Romano

Eliminação feliz: japoneses dão adeus ao Mundial após vitória contra os EUA (Crédito: Bryn Lennon/Getty Images)

Com três vitórias incríveis e apenas uma derrota, o Japão se despediu do Mundial 2015 neste domingo. A vítima da vez – depois de África do Sul e Samoa, duas potências do esporte – foi o Estados Unidos (28-18), comprovando os japoneses como grande surpresa do torneio e maior nação emergente do rúgbi mundial.

Após o jogo, atletas e treinadores não esconderam a felicidade da campanha. Mas todos se lembraram que o objetivo era as quartas-de-final. Típico de um time grande.

Entre todos elogios que o Japão pode receber, um que resume a participação na Copa é esse: quando a proposta de jogo se encaixa, eles sabem aplicá-la e concluem o jogo com precisão; se não encaixa, eles lutam bravamente até o fim. É outra qualidade comum em seleções de ponta.

Colocar o Japão no primeiro escalão do esporte ainda é um exagero, claro. Mas não dá pra negar que o rúgbi atingiu um novo patamar no país. E não só foi só dentro de campo.

A quantidade de fãs do esporte explodiu durante a Copa: 60% dos televisores japoneses sintonizaram o jogo contra a Escócia e 25 milhões de pessoas assistiram o duelo contra Samoa, segundo dados oficiais japoneses.

Mas nem tudo são flores.

O treinador Eddie Jones, visto como a mente por trás deste sucesso, está fora do comando com o fim da campanha. Além disso, Jones criticou recentemente a federação japonesa, em dois pontos chave: a falta de ambição e a desorganização que atrapalha uma evolução ainda maior do esporte no país.

Para pegar apenas um caso atual como exemplo, os japoneses quase perderam a oportunidade de sediar a Copa do Mundo de 2019. A federação local atrasou várias entregas de documentos e compromissos firmados com a World Rugby.

Já nos acréscimos da resolução, tudo acabou resolvido – mas sem conseguir espantar o mal estar e o nariz torcido para os dirigentes japoneses.

De qualquer forma, tudo indica que uma nova era do rúgbi japonês começou na Inglaterra. Ainda que, na prática, o trabalho pra valer vai se iniciar agora.

Ou você acha que alguém vai entrar tão desavisado – como fez a África do Sul neste Mundial – no próximo duelo que tiver os samurais de um dos lados?

E será que alguém ainda tem alguma dúvida de que a chave que tiver duas grandes forças (mais o Japão) na Copa de 2019 não vai ser chamada de “grupo da morte”?

Se o rúgbi aumentou de nível, a pressão e a responsabilidade (dentro e fora de campo) se multiplicaram.

Só não se esqueça do incentivo extra no próximo Mundial: eles vão ter jogado, com uma nova franquia japonesa, quatro temporadas de Super Rugby – enfrentando a cada semana os melhores times do hemisfério sul. E vão defender a nova fama jogando um Mundial em casa.

DICA DO DIA: Jogos oficiais de rúgbi Union, na modalidade XV jogada neste Mundial, permitem oito substituições. Se um atleta sangrar, pode haver uma troca temporária, que não conta como alteração. O time nunca pode ficar sem primeiras-linhas: pilar aberto, pilar fechado e hooker (números 1, 2 e 3, entre os titulares), considerados especialistas para formar os scrums. Se, por contusões demais, não sobrarem primeiras-linhas disponíveis no elenco, os scrums passam a ser feitos sem disputa de força.

O CARA: Ian Madigan. O abertura reserva da Irlanda assumiu, na “fogueira”, o posto do lesionado Jonathan Sexton, no meio do jogo decisivo contra a França. Mesmo assim, deu conta do recado e liderou sua seleção à vitória. A missão foi tão dura e intensa, que Madigan desabou em choro (de alegria, claro) depois do apito final.

A FRASE: “Nós estamos muito felizes, apesar não termos cumprido o objetivo de chegar às quartas-de-final. Por outro lado, também me conforta saber que 60 % deste time vai jogar a próxima Copa. O que mais me impressionou disso tudo, no entanto, foi ver tanta gente de vermelho e branco pela janela do ônibus no caminho para o estádio”, Eddie Jones, treinador do Japão, que deixa a seleção após a vitória deste domingo contra os EUA.

A IMAGEM: A Itália não avançou para o mata-mata, mas fez sua parte neste domingo, superando a Romênia. Com o resultado (32-22), os italianos terminaram em terceiro do grupo “D, garantindo vaga direta na Copa de 2019. Na foto, os jogadores reverenciam Mauro Bergamasco, recordista italiano com cinco participações em mundiais.

LONDON EYE: As quartas-de-final do Mundial 2015 estão definidas:

África do Sul x País de Gales (17/10, 12h)

Renascida e em ascensão, a África do Sul encara a desfalcada e valente seleção galesa, em um choque de gigantes totalmente imprevisível. A única certeza é que Twickenham vai tremer.

Nova Zelândia x França (17/10, 16h)

A reedição da final de 2011 é o duelo que todo fã de rúgbi queria ver. Por mais que os All Blacks estejam em alta e a França venha de derrota para a Irlanda, os Les Blues costumam entrar na mente (e no in goal) dos neozelandeses, complicando a vida dos bicampeões mundiais.

Irlanda x Argentina (18/10, 9h)

O histórico do confronto direto dá vantagem aos irlandeses. Mas, dentro dos mundiais, os argentinos têm retrospecto melhor. Com os dois times no auge, deve ser um jogo de rúgbi para marcar a história no esporte. Vai ser triste ver um desses dois gigantes se despedir tão cedo.

Austrália x Escócia (18/10, 12h)

Dos quatro jogos este é o que tem um favorito mais evidente. E este vai ser justamente o grande desafio dos australianos: esquecer a superioridade para conseguir jogar tão bem como na primeira fase. Uma vitória da Escócia neste cenário pode ser considerada uma zebra das grandes.