Campeão olímpico alerta: ilhas do Pacífico viraram o “velho-oeste” do rúgbi
UOL Esporte
Por Bruno Romano
Talentos arrancados cedo de seus clubes, agentes maliciosos e empresários mal-intencionados. A descrição nua e crua vem do ex-treinador da seleção de Sevens de Fiji, o inglês Ben Ryan, campeão olímpico na Rio-2016, analisando a realidade atual das ilhas do Pacífico quando o assunto é rúgbi.
Não é apenas Fiji que passa pela situação. As “vizinhas” Samoa e Tonga também têm sofrido com o que Ryan chama de novo “velho-oeste” do esporte, em alusão a falta de regras e princípios nos contratos dos atletas rumo ao exterior, sobretudo para Europa e Oceania.
Em entrevista à BBC escocesa, Ryan se diz incomodado com a situação e em busca de mudanças. Ele lista várias circunstâncias que presenciou nos últimos tempos, vivendo em Fiji, terra o que o abraçou e até lhe dei um novo nome guerreiro após o inédito título olímpico.
Para o treinador, clubes top no mundo têm buscado (e incentivado) perfis de atletas “monstruosos”, cada vez mais jovens. Agentes destas equipes poderosas vão aos povoados locais e muitas vezes aliciam atletas e famílias – vários deles ainda na fase escolar – com boas quantias em dinheiro.
O inglês reconhece também que há bons agentes em serviço, mas a falta de regulação e supervisão no assunto preocupa. Em episódios mais graves, ele relata casos de negociações atravessadas e jogo sujo por trás das contratações.
Na prática, este incrível berço de talentos do rúgbi tem sentido a falta de seus jogadores mais perto de casa. No último Mundial, a seleção de XV de Fiji, por exemplo, tinha 28 dos seus 31 jogadores atuando no exterior.
Ryan defende debates, regras e ideias atualizadas para que a região possa ter oportunidades mais justas. Se na próxima década nada mudar, defende o inglês, ele acredita que seleções como a da Austrália terão metade do time nascido nas ilhas do Pacífico, pelo menos.