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“Reis do Sevens”, fijianos transformam tragédia no país em ouro inédito

UOL Esporte

Seleção de rúgbi de Fiji comemora após conquistar a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos (Phil Noble/Reuters)

Seleção de rúgbi de Fiji comemora após conquistar a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos (Phil Noble/Reuters)

Por Bruno Romano
Do UOL, no Rio de janeiro

Impossível separar a passagem do ciclone Winston pelas Ilhas Fiji no início do ano com a consagração máxima da seleção de rúgbi do país nesta quinta-feira em Deodoro.

O país que foi devastado por um fenômeno natural sem precedentes, afetando vários familiares e amigos destes jogadores, bateu a Grã-Bretanha na decisão do rúgbi para cravar dois feitos inéditos: o primeiro ouro olímpico do Sevens e uma inédita medalha, de qualquer cor ou modalidade, para os fijianos.

A trajetória para recuperar um país é notável. E todas as últimas conquistas de Fiji dentro de campo, incluindo o segundo título seguido no Circuito Mundial, nesta última temporada, foram dedicadas às vítimas. Com a consagração no Rio não foi diferente.

O sonho dourado de Fiji na Rio-2016 foi apenas o embalo de uma história de anos de relação íntima com o Sevens (e com as vitórias no rúgbi reduzido). Não é a toa que esta seleção recebe dois apelidos: ''Reis do Sevens'' e ''Fijianos Voadores'', sobre o domínio dos gramados e o estilo de jogo alegre, dinâmico, veloz e arisco.

No campo de Deodoro, os ''voadores'' deixaram pelo caminho Brasil, Argentina, Estados Unidos, Nova Zelândia e Japão, antes de faturar o primeiro lugar em cima dos britânicos por indiscutíveis 43-7.

Um feito esportivo do tamanho do merecimento desdes jogadores. E que traz agora a tona várias conquistas pessoais e coletivas, tão duras ou mais do que ganhar uma Olimpíada.

Em um país visto como paraíso natural para visitantes, a realidade traz poucas oportunidades de trabalho fora o turismo. O rúgbi, diversão número um no pedaço, é o principal passaporte para sonhar com outro tipo de vida.

Dois exemplos desta geração explicam bem esta história. Osea Kolinisau, o capitão, se revezava com os irmãos para ir à escola. A família não tinha dinheiro de condução para todos. Jerry Tuwai, o pequeno e gigante craque, já foi morador de rua. Juntos, foram protagonista para colocar Fiji no tópio do pódio, seu devido lugar.

O rúgbi faz parte da vida das famílias, dos encontros de bairros, e é até jogado sem compromisso nas praias com coco imitando bolas.

É por isso que Sevens, para Fiji, é muito mais que um esporte, mas uma forma de expressão. A performance em Deodoro foi o auge dela. A mais sincera, honrosa e divertida maneira de ver ao vivo essa expressão.

Das doze seleções masculinas que pisaram em Deodoro, todas teriam histórias de ouro para contar em caso de título. Mas a que o mundo mais precisava ouvir era mesmo a de Fiji.