Inédito título europeu do Saracens confirma renascimento do rúgbi inglês
UOL Esporte
Por Bruno Romano
Pela primeira vez em sua história os londrinos do Saracens chegaram ao topo da Europa, com uma vitória indiscutível neste fim de semana (21-9) sobre os franceses do Racing 92 na decisão da Champions Cup, a Copa Europeia de Rúgbi.
O jogo sem tries foi emblemático ao trazer de volta à Inglaterra a maior honra do continente depois de nove anos de jejum – o último título de um clube do país havia sido o dos Wasps, em 2007.
Mais do que a taça inédita, o triunfo é um sinal definitivo da volta por cima do rúgbi da Inglaterra. Neste ano, poucos meses depois do vexame da precoce eliminação no Mundial 2015, o país também faturou o Six Nations, maior torneio de seleções da Europa.
Os dois títulos foram invictos, o que chama ainda mais atenção. Foram cinco vitórias seguidas da seleção inglesa e nove do Saracens, o primeiro time na história da Champions Cup (ex-Heineken Cup) a faturar o torneio sem sequer um empate na campanha, em 21 anos de competição.
O curioso é a que a primeira final entre um time de Londres contra um de Paris foi decidida na defesa. Todos os 30 pontos saíram de chutes aos postes. Nem por isso o jogo foi ruim, muito pelo contrário.
Mas a estatística comprova a diferença nas propostas e nos estilos de jogo do hemisfério norte e sul – o último dominou a Copa do Mundo 2015 com as quatro primeiros colocações: Argentina (4o), África do Sul (3o), Austrália (2o) e Nova Zelândia (1o).
É justamente da Nova Zelândia que vinha a esperança do Racing para superar o “imbatível” Saracens. O camisa 10 Dan Carter, atual “melhor do mundo” pela World Rugby, não conseguiu jogar a 100 % da sua condição física.
Carter suportou o primeiro tempo, sem destaque, e saiu no começo do segundo. Sequer chutou aos postes, sua grande arma em jogos decisivos, graças a um incômodo no joelho direito.
Quem brilhou de verdade foi Owen Farrell, o camisa 10 do outro lado. Representante da nova geração inglesa, Farrell é visto como o substituto natural de Jonny Wilkinson, ex-abertura, já aposentado, que conquistou o Mundial de 2003 pela Inglaterra e fez parte da recente e vitoriosa história do Toulon, clube campeão europeu em 2013, 2014 e 2015.
Aos poucos, Farrell vai mostrando que é capaz de carregar esse peso e cumprir essa dura missão. Ele anotou todos os 21 pontos do Saracens e foi o maestro do time com a bola em jogo. Mesmo jovem, com 24 anos, fez uma final memorável. E ele não está sozinho.
O gigante segunda-linha Maro Itoje, 21, celebrou o título e o merecido prêmio de homem do jogo – daqui a alguns anos, se seguir o ritmo, deve ser reconhecido como o melhor do mundo.
O trabalho de longo prazo do Saracens, construído com paciência e inteligência, colheu seus primeiros frutos. Não é o rúgbi mais bonito da Europa, longe disso. Mas é o mais eficaz e efetivo.
Construir a vitória em uma final com base na defesa não é demérito. Aliás, pode ser um bom começo para alcançar os gigantes do sul. Seria algo como: aprender a pará-los primeiro, para depois descobrir como pontuar contra adversários mais fortes, rápidos e técnicos.
Por tudo isso, não foi apenas o Saracens de Londres que triunfou na Champions Cup. Foi toda a jovem garotada inglesa que deu um recado ao mundo do rúgbi. E o clube de vermelho e preto é importante parte deste processo. Não à toa, parecem ter, mais do que vencido um título, começado uma nova hegemonia no pedaço.
A rápida volta por cima do rúgbi inglês, ao que tudo indica, é o início de um grupo de jogadores que vai dar trabalho nos próximos anos.
Uma geração que nasce com a cicatriz de um mundial trágico jogado em casa, mas que já provou ter uma essência corajosa e talentosa. Outras vitórias, como esta do Saracens, parecem ser só questão de tempo.