Depois de “servir a um legado”, grande nome do rúgbi brasileiro se aposenta
UOL Esporte
O rúgbi brasileiro deu adeus a um de seus principais nomes em um jogo histórico para o esporte no país. A oito meses dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, Fernando Portugal decidiu se aposentar após a derrota da seleção para a Alemanha, na última sexta-feira (4), no estádio do Pacaembu.
Aos 34 anos, Portugal deixa o time brasileiro em um dia importante para a modalidade: pela primeira vez, uma partida de rúgbi aconteceu no Pacaembu. O lendário estádio paulista, que já foi palco até de jogos da Copa do Mundo, trocou as traves de futebol pelo tradicional H do rúgbi e recebeu 10.480 torcedores, um recorde do esporte no país.
E foi nesse palco, nessas circunstâncias, que Portugal se despediu após 16 anos vestindo as cores do Brasil. O adeus, na verdade, começou na Argentina, há um mês. Lá, o capitão fez sua última partida pela equipe de sete, contra uma seleção regional do país vizinho. Agora, se despede do time de 15, do qual também já foi o líder.
“Vivi uma era amadora com um espírito muito profissional, querendo conquistar mais, querendo fazer mais. Nessa era profissional, já não consigo render mais tanto”, explicou depois da partida contra a Alemanha, em que foi homenageado e não conseguiu conter as lágrimas.
“Não se trata da minha carreira, mas de servir a um legado, como falou Richie McCaw (capitão da Nova Zelândia) depois do título da Copa do Mundo”, continuou. “Acho que o meu legado é esse: trazer mais seriedade no trabalho com rúgbi. Tentei trazer um pouco de profissionalismo em uma era amadora. Agora a gente entra em uma era profissional que já não posso contribuir mais dentro de campo. Vou contribuir fora dele”.
Envolvido com rúgbi desde os 15 anos, Fernando Portugal alcançou durante sua carreira algo que poucos jogadores brasileiros conseguiram: uma chance de atuar em um país com tradição no esporte.
Em 2005, com ajuda de estudantes da Universidade de Direito da USP, viajou para a Itália em busca de uma oportunidade. E acabou cruzando seu caminho com o Segni, da primeira divisão italiana. De início, chegou a trabalhar como servente de pedreiro, enquanto não acertava um contrato profissional, algo que veio logo no ano seguinte.
No Brasil, atuando pelo São José, foi pentacampeão brasileiro de rúgbi de 15 e bicampeão nacional de rúgbi de sete.
“Esse cara que a gente viu dentro de campo arrebentar, se diferenciar pela qualidade, não é só isso para o rúgbi. Ele é um cara que dentro do vestiário fazia a equipe seguir, levantava um jogador que estava desanimado, sabia ser o irmão, o companheiro que você precisa no momento difícil”, explicou Werner Grau, vice-presidente da Confederação Brasileira de Rúgbi.
Presente nos principais momentos do rúgbi brasileiro, como a partida contra a Inglaterra no tradicional no estádio Twickenham, para 77 mil pessoas, Fernando Portugal sai de cena meses antes de algo histórico para o esporte: a participação nos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro.
“É difícil saber a hora de parar. Gostaria muito de brigar junto com ele para defender o Brasil nos Jogos Olímpicos, mas se é decisão dele, apoio de olhos fechados”, afirmou o veterano asa Ige, presente desde o início da carreira de Portugal na seleção e o primeiro a saber sobre a aposentadoria. “Ele é um cara que mergulhou de cabeça no sonho há 15 anos e batalhou com toda energia que teve até hoje. E com certeza não vai parar hoje. Sai de campo, mas não sai do rúgbi”.
Brunno Carvalho
Do UOL, em São Paulo