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África do Sul é impiedosa e garante medalha de bronze no Mundial de Rúgbi

UOL Esporte

(Sul-africanos param Nico Sanchez na vitória que garantiu o bronze aos Boks. Crédito: Mike Hewitt/Getty Images)

(Sul-africanos param Nico Sanchez na vitória que garantiu o bronze aos Boks. Crédito: Mike Hewitt/Getty Images)

 

Por Bruno Romano

Dominantes, intensos e impiedosos. Os Springboks fizeram tudo o que se espera deles em um campo de rúgbi no duelo de hoje contra a Argentina e deixaram a Copa do Mundo com uma medalha de bronze (e uma ótima impressão). Os argentinos também se despedem em alta. Mostraram o mais alto nível de rúgbi da sua história. Mas ainda foi pouco para superar os gigantes do esporte.

Para os Pumas, vencer o jogo seria como ganhar um título. Para os Boks, bicampeões do mundo, a vitória era obrigação.

É por isso que os sul-africanos entraram com força máxima. E ao respeitar o adversário (e o próprio esporte), jogando concentrados e em altíssima velocidade, tiveram espaço para criar e fazer tries. E, por que não, se divertir. Cravaram 24-13, em uma diferença que só ficou menor graças a um try argentino no último lance.

Passando a limpo a campanha dos Boks, o time honrou sua história e fez bonito no Mundial. E é assim que essa seleção vai ser lembrada. Não apenas como o time que perdeu para o Japão na estreia. A reviravolta comandada pelo treinador Heineke Meyer já é uma das grandes e inspiradoras histórias de Copas do Mundo.

Ainda que Meyer tenha mostrado desinteresse pelo jogo do bronze – se era verdade ou só mais uma artimanha para distrair o rival nunca vamos saber –, na prática os Boks vieram com tudo. E os Pumas sentiram a pancada nos primeiros minutos. Aos poucos, o domínio foi se transformando em argentinos no chão e pontos no placar.

Mesmo assim, os dois times jogaram muito soltos e confiantes, deixando o espetáculo a altura do Mundial. Os Springboks eram mais efetivos, mas os Pumas se recusavam a abaixar a cabeça. Os argentinos mantiveram seu padrão (e estilo) ofensivo, como fizeram em toda a Copa, mas incluíram mais viradas de jogo e bons chutes (como não fizeram contra a Austrália na semifinal).

Mais ágeis, leves e habilidosos, os Pumas abusaram do jogo de mão, mesmo quando a bola estava com um forward. Mas como já tinha acontecido contra a Austrália e Nova Zelândia foram presas fáceis nos lances de contato e no chamado breakdown, ou seja, a disputa imediata depois que um jogador é derrubado.

Não dá para relevar o fato de os Pumas só terem vencido os Boks uma vez na historia – este ano, no Rugby Championship. E com nove mudanças do último jogo, entrosamento e gás fizeram muita falta, como já era mais do que esperado.

O que fica de positivo para os Pumas é a capacidade de acreditar em um projeto (ou uma forma de jogar) e dar a vida por ele. Melhor ainda: esse estilo é bem próximo do que farão nas próximas temporadas de Super Rugby, quando a maior parte desta seleção se transformará em um time, para encarar as melhores equipes da Nova Zelândia, Austrália e África do Sul várias vezes no ano.

A jornada é dura, a diferença física ainda é grande e alguns ajustes são necessários. Mas os Pumas mostraram que tem coragem para encarar esse caminho. O salto de qualidade neste Mundial é claro e notável. E isso é vencer no rúgbi.

Se os “Pumas de Bronce”, terceiros colocados na Copa de 2007, mostraram grandeza, os Pumas de 2015 já são um marco de uma nova era. Não pelo quarto lugar em um Mundial disputadíssimo. Mas pela postura e pela qualidade em campo.

A disputa do bronze também será lembrada para sempre pela despedida de vários nomes que marcaram a história do rúgbi. Entre tantos destaques de cada lado, os argentinos Juan Martín Fernandez Lobbe e Horácio Agulla (que jogaram nos Pumas de Bronce) e os sul-africanos Victor Matfield, Shalk Burger e Brian Habana (maior artilheiro em tries das Copas, ao lado de Jonah Lomu) deixaram o campo aplaudidos de pé.

Foi o fim de uma geração e o despertar de outra. Dos dois lados, quem ganha é o rúgbi. As novas armas dos Pumas e dos Boks foram testadas pra valer pela primeira vez nesta Copa. E as duas passaram bem no teste.

Não é que a nova geração tenha apenas ganhado experiência. Eles já estão prontos pra guerra e foram protagonistas neste Mundial. Em 2019, Pumas e Boks devem ser ainda mais perigosos.

O CARA: Schalk Burger. O asa da África do Sul sofreu com uma grave meningite, chegou a ficar dois anos afastado do rúgbi e quase morreu, tamanha gravidade da doença. Burger conseguiu se recuperar a ponto de jogar de novo em alto nível e se despedir da seleção como um dos melhores jogadores da Copa.

A IMAGEM: Foi por pouco. Bryan Habana desperdiçou duas chances de try no duelo contra a Argentina. Se fizesse um deles já passaria Jonah Lomu e teria se tornado o maior artilheiro das Copas isolado. Habana e Lomu seguem liderando o ranking com 15 tries em mundiais.

during the 2015 Rugby World Cup Bronze Final match between South Africa and Argentina at the Olympic Stadium on October 30, 2015 in London, United Kingdom.

(Crédito: Mike Hewitt/Getty Images)

A FRASE: “Eu já ganhei algumas Copas do Mundo acertando chutes no meu quintal quando eu tinha uns 5 ou 6 anos”, Dan Carter, camisa 10 dos All Blacks, no último treino de chutes antes da final.

LONDON EYE: All Blacks e Wallabies entrarão com força máxima na final do Mundial neste sábado. Pelo menos é o que mostram as escalações. A Austrália é a que mais sofria com lesões, mas Scott Sio (#1), Matt Giteau (#12) e Israel Folau (#15) estão confirmados no time titular.