Fúria argentina atropela, quebra tabu e confirma nova era dos Pumas
UOL Esporte
Desde 2007 a Argentina não vencia a poderosa Irlanda, atual bicampeã europeia e única equipe que une as duas “Irlandas” em um mesmo esporte. Todo o embalo de uma campanha invicta, de uma torcida unida e fanática e de uma tradição imensa não foram suficientes para derrubar os Pumas. Os argentinos venceram (43-20) e atingiram hoje o mais alto nível de rúgbi de sua história.
É verdade que a Irlanda estava sem quatro titulares. O capitão Paul O’Connell, o abertura Jonny Sexton e os terceiras-linhas Sean O’Brien e Peter O’Mahony fizeram muita falta. Mas também é verdade que os irlandeses tinham potencial para assumir o papel de grande esperança do hemisfério norte neste Mundial.
O que se viu, na prática, foi uma sina sendo mantida: a Irlanda foi guerreira, mas segue sem nunca ter passado pelas quartas-de-final de uma Copa.
Acontece que a Argentina é mais do que uma forte seleção. É um time unido, que vive concentrado há mais tempo – logo, aprenderam a lidar com bons e maus momentos. O trabalho se reflete em campo. A diferença dos Pumas do último mundial em 2011 para a equipe atual é imensa. Mesmo com vários jogadores se mantendo no grupo.
Tentar se igualar aos gigantes do hemisfério sul foi o melhor caminho que a Argentina podia ter escolhido nos últimos anos. Eles ainda não são All Blacks, Wallabies ou Springboks – Nova Zelândia, Austrália e África do Sul ainda estão um degrau acima – mas os Pumas já sintonizaram a mesma frequência deles dentro de campo.
A Argentina tem sido protagonista, ditando o ritmo dos jogos. E tem elenco. Prova disso é a entrada de Matías Moroni no lugar do titular absoluto Marcelo Bosch (#13), suspenso para este jogo contra a Irlanda. Moroni manteve o nível e fez o primeiro try, que abriu caminho a vitória arrasadora dos Pumas.
Já pensando nos próximos desafios desta Copa, ainda maiores, não dá para ganhar de nenhum dos bicampeões mundiais (Nova Zelândia, Austrália e África do Sul) só com 15 jogadores. É preciso um elenco completo, já que o ritmo precisa ser outro – é forte demais para manter por 80 minutos.
Outro segredo dos gigantes, é começar o jogo com fúria e precisão. Os Pumas transformaram a dúvida e a insegurança da desfalcada Irlanda em pontos. Chegaram a abrir 17-0, com dois tries coletivos, em altíssima velocidade.
Os bicampeões europeus responderam a tempo – e a altura da ocasião. O jogo ficou aberto por muito tempo e, a partir daí, começou a testar o verdadeiro limite dos dois times.
O segredo para a Irlanda incomodar a partida (e a mente argentina) foi atacar a maior fortaleza dos Pumas: o scrum fixo. Quando conseguiram, o equilíbrio se espelhou em todas as áreas do jogo.
Mas quando os Pumas pareciam mais frágeis, e a ponto de sucumbir ao talento e a bravura dos irlandeses, a fúria argentina falou mais alto. Foram de presa a caçadores em um instante. Com a garra, a raça e valentia de sempre. Mas usando desta vez a inteligência, a leitura de jogo e o trabalho em equipe que definem a nova era argentina do rúgbi – um nível acima, alcançado com união, estratégia e suor.
O resultado deste domingo já faz os Pumas chegarem ao objetivo estabelecido publicamente por Daniel Hourcade, treinador argentino e líder de uma comissão técnica que já é vencedora, independente do que acontecer a partir daqui.
Mas é claro que eles querem (e podem) mais. E vão fazer de tudo por isso. A chance de se tornar os maiores Pumas da história – superando o 3o lugar no Mundial de 2007 – já faz parte do consciente e do inconsciente desse grupo. O capitão argentino Agustín Creevy disse ter sonhado que estava levantando a taça durante esta semana.
Os Pumas de Creevy e Hourcade já estão transformando sonhos em realidade. Sonhar um pouco mais parece ser mesmo a melhor coisa a fazer agora.