Um engano no Orkut fez ele entrar no rúgbi. Hoje, é jogador da seleção
UOL Esporte
Uma foto de um jogo de futebol americano postada ainda nos tempos do Orkut mudou a vida de um atleta da seleção brasileira de rúgbi. O piauiense radicado em São Paulo André Luiz Nascimento Muniz da Silva viu na imagem a chance para começar a praticar o esporte popular nos Estados Unidos. Um engano, no entanto, fez com que ele fosse parar em outra modalidade: o rúgbi.
“Eu nunca tinha ouvido falar de rúgbi na minha vida. Uma amiga minha estava fazendo intercâmbio nos Estados Unidos e postou uma foto do futebol americano. Eu falei para ela: ‘nossa, que bacana esse esporte. Se eu soubesse onde tem algum lugar pra treinar aqui no brasil, eu treinaria’”.
Foi por meio da mesma amiga que André Luiz conheceu o SPAC (São Paulo Athletic Club), clube que defende até os dias de hoje. Mas algo estava errado. “Chegando lá, eles me mostraram um vídeo e eu vi que o esporte que eles praticavam não tinha nada a ver com o futebol americano”.
Mesmo com a confusão, a vontade de praticar o esporte não desapareceu. André Luiz passou a jogar como ponta e virou Boy, um apelido que se encaixa perfeitamente na vida do piauiense. “Quando comecei a treinar rúgbi, ia com uma camiseta do meu time de futsal do colégio, o ‘WBoys’. Logo na sequência, arrumei um emprego em uma agência de câmbio e turismo, e trabalho com moto lá. Então Boy ficou geral, servia para qualquer coisa”.
Rúgbi “forçou” a troca de emprego
O trabalho de motoboy apareceu como uma solução para a dificuldade de conciliar a vida com o rúgbi. Quando iniciou no esporte, em 2009, Boy trabalhava como barman, mas a inflexibilidade de horário atrapalhava os treinamentos.
“Era tranquilo durante a semana, mas em dias de jogo, que eram sempre aos sábados, eu só conseguia jogar um tempo e ia correndo trabalhar”. Foi então que a decisão de trocar de emprego surgiu e o destino colocou Boy em lugar familiarizado com o esporte.
“Esse novo (de motoboy) é de segunda a sexta, então dá para treinar e jogar de final de semana. Meu chefe já jogou rúgbi e é compreensível em relação a isso, até quando preciso viajar. Fiz um acordo com ele e descontam os dias das minhas férias”.
E o tal acordo com o chefe faz com que Boy não se preocupe caso seja convocado pela seleção brasileira para disputar os Jogos Olímpicos de 2016. “Acho que ele vai entender. Um mês para disputar o segundo maior evento esportivo do mundo ele deixaria, não faria isso comigo”, brinca.
Aos 27 anos e desde 2011 na seleção brasileira, Boy ainda vê distante a possibilidade de viver apenas do esporte. “Um ou outro jogador até consegue, mas o que recebo da seleção não é suficiente. Do clube não recebo nada, porque ele não é profissional”, explica.
Mas uma coisa ele já pode agradecer ao rúgbi: a oportunidade de conhecer o mundo. “Acho que até daria para ir a Argentina, Chile, mas sem o esporte jamais conseguiria conhecer China, Nova Zelândia e Inglaterra”, essa última, palco da maior emoção da carreira de Boy: a partida contra os donos da casa no estádio Twickenham, para 77 mil pessoas, pelo torneio London Sevens, em maio deste ano. “Nem conseguia ouvir o companheiro do meu lado”.
Brunno Carvalho
Do UOL, em São Paulo