Gigante de 150 kg e ritual de guerra: os segredos da vitória de Tonga
UOL Esporte
Por Bruno Romano
(Ninguém segura: Opeti Fonua lidera o primeiro triunfo de Tonga no Mundial)
Esqueça a técnica, a tática e os lances bonitos. Pense mais na garra, nas trombadas que podem ser ouvidas da arquibancada e nas jogadas arriscadas de um duelo em que ninguém tinha nada a perder. Foi neste ritmo alucinante que Tonga superou a Namíbia (35-21) em jogo único (e muito disputado) desta terça-feira de Mundial 2015.
O arsenal tonganês contava com três jogadores que somavam 360 quilos na primeira linha (números 1, 2 e 3) e gigantes como Opeti Fonua, oitavo do time inglês Leicester Tigers, que usou seus 148 quilos para atropelar pelo menos uma dúzia de namibianos. Este time de hoje, aliás, foi o mais velho e com mais aparições em campo por Tonga na história dos Mundiais.
A experiência e a força física fizeram a diferença, mas não foram as únicas armas. A velocidade de Tonga nos passes e nas viradas de jogo estava pelo menos três marchas acima dos adversários. Mais do que isso: até mesmo seus gigantes sabem correr e fazem bons passes em meio às trombadas – uma característica definitiva do rúgbi moderno, que tem se comprovado nesta Copa, não importa o nível da seleção.
Com muitos erros técnicos e táticos dos dois lados, a partida ficou bem longe de ser uma aula de rúgbi bem jogado. Mesmo assim, mostrou como um duelo com a bola oval pode ser emocionante e divertido de assistir, desde que jogado com tanta intensidade. Neste ponto, Tonga e Namíbia deram um ótimo exemplo. Até por que, em meio a tanta faísca que saiu de cada lance mais duro, o jogo passou longe da agressão e da violência.
Poder ver isso em uma Copa do Mundo empolga quem gosta de rúgbi e até atrai atenção de quem não conhece muito do esporte. Mas analisando a qualidade dos times, há muito mais erros do que acertos. O jogo de chutes (para aliviar a pressão ou para pontuar) foi péssimo. O número de tackles errados foi enorme. E a desorganização na defesa dos dois lados saltou aos olhos. Desse jeito, Tonga e Namíbia vão ser duas presas fáceis para os Pumas argentinos.
(Mais rápido em campo, Telusa Veainu guardou dois tries contra a Namíbia)
DICA DO DIA: É possível chegar a um nível altíssimo de performance, sem apelar para o doping. O programa “Keep Rugby Clean” (Mantenha o Rúgbi Limpo, em tradução livre) é prova disso. Neste ano de 2015, apenas um jogador galês foi pego em exames regulares – e recebeu quatro anos de suspensão do esporte. Saiba mais em: keeprugbyclean.worldrugby.org.
O CARA: Jacques Burger. Em seu 10º jogo pela Namíbia em Mundiais, o capitão da seleção africana anotou dois tries. Burger está um nível acima de seus companheiros de time. Joga pelo Saracens, na primeira divisão inglesa, e é considerado um dos terceiras-linhas mais valiosos e agressivos (no bom sentido) do rúgbi moderno.
Toda essa doação ao esporte, no entanto, tem data para acabar. Após a Copa, Burger anunciou que vai se aposentar da seleção – ainda jogará até o fim do ano pelos Saracens. Seu destino? Ele quer trocar tackles, trombadas e o agito de Londres pela vida de fazendeiro na Namíbia.
A FRASE: “Havia muita decepção no vestiário após a derrota para Gales, mas estamos transformando esse sentimento em uma mentalidade positiva durante a semana. Estou 100 % confiante disso. Poderíamos jogar amanhã contra a Austrália. A Inglaterra está unida”, Stuart Lancaster, treinador da Inglaterra em entrevista coletiva, analisando o duelo de “vida ou morte” contra a Austrália do próximo fim de semana.
IMAGEM: Antes da batalha desta terça-feira, a seleção de Tonga entoou o Sipi Tau, um canto de guerra que faz parte das tradições culturais do país, conhecidas como Kailao.
Entre outras coisas, a letra diz que as “águias do oceano” (apelido de Tonga) estão famintas; que elas se alimentam de fogo e água do mar; que a morte ou a vitória são seus possíveis destinos – e ambos lhe caem bem.
A Namíbia pode não ter entendido a letra, mas viu na pele o que o Sipi Tau significa.
LONDON EYE: Para quem espera um passeio de Gales contra Fiji nesta quinta-feira, pode se surpreender. O ultimo encontro com os fijianos acabou 17-13 para os galeses – resultado apertado para quem tinha o apoio da torcida no Millenium Stadium de Cardiff.
É óbvio que o embalo de Gales deve fazer a diferença (e até definir o jogo), mas Fiji não vai facilitar a vida dos algozes da Inglaterra. Mesmo com seis desfalques, por suspensões e contusões, Fiji nomeou seu time mais experiente da história em Mundiais, com 392 aparições somadas no elenco. Destaque para o back Timoci Nagusa, artilheiro da última temporada do Top 14, a primeira divisão da França.
Gales terá três alterações, todas na linha (números 9 a 15 do time). Para adiantar, as posições que mais “preocupam” serão ocupadas por Tyler Morgan (#13) e Mattew Morgan (#15), este último é a terceira opção galesa para fullback, graças a uma incrível má sorte com lesões. Mas esse é só um aperitivo. A análise completa deste confronto decisivo do “grupo da morte” fica para quarta-feira neste blog.
(Fijianos treinam duro para encarar o País de Gales nesta quinta pelo Mundial)