Titular da seleção tem rotina louca pelo rúgbi e foco na Olimpíada de 2016
UOL Esporte
Dá para viver só com dinheiro do rúgbi no Brasil? “Dá só para sobreviver”. O pensamento é de Felipe Claro, o Alemão, peça importante da seleção brasileira de rúgbi de 7 que atualmente se prepara para representar o país na Olimpíada de 2016. Para o armador do SPAC, clube paulistano tradicional na modalidade, foi necessário muita disciplina e correria para trabalhar sem deixar de lado a paixão de entrar em campo.
Aos 29 anos – 18 deles dedicados ao rúgbi –, Alemão tem situação financeira estável e planeja se casar no ano que vem. Para chegar até aí, porém, foi preciso uma rotina que pode deixar muito atleta profissional cansado só de ouvir. Os exigentes treinos com a seleção e o clube são “equilibrados” com outros empregos, todos com total influência do esporte: ele é dono de uma marca de equipamentos de rúgbi e de uma academia.
Sobra tempo para alguma outra coisa no dia? Quase nada. Mas ele garante que quer levar a vida assim por pelo menos mais alguns anos – e sem reclamar ou se arrepender. “De 2001 a 2008, paguei do meu bolso para jogar pela seleção. Se agora alguém fala que vou ganhar para jogar, vou abraçar o cara”, brinca.
Rotina alucinante
“Meu dia é bem corrido, principalmente porque prezo muito jogar pela seleção. Acordo cedo, 6h30 da manhã, checo e-mails da minha empresa de uniformes, tomo meu café da manhã e saio de casa. Vou ao Núcleo de Alto Rendimento, onde a gente treina todo dia pela seleção das 9h ao meio-dia. Almoço por lá, ou às vezes em casa com meus pais, depois passo na minha academia, vejo se está tudo bem, falo com os alunos. Volto para o escritório em casa, falo com minha funcionária na confecção… quando dá algum pepino, vou para a fábrica no centro”.
“Depois volto para casa. Se é uma terça-feira, tomo um banho, descanso meia hora e venho para o SPAC treinar até 23h. Faço uma janta, às vezes minha noiva está em casa me esperando, às vezes vou até a casa dela. E no outro dia de manhã estou treinando com a seleção”.
Rúgbi para “desestressar”
“Não existe nada melhor que o rúgbi pra isso. Quando eu tinha 13 anos, comecei a ir mal na escola, me estressava muito, vinha e arrebentava nos treinos. Sempre usei o rúgbi como uma válvula de escape para um estresse maior, e uso até hoje, no relacionamento, no trabalho, em casa… Depois que eu passo do vestiário e coloco a chuteira, não existe problema mais. Pode ter falido a empresa, caído o telhado da academia, que se estou aqui é para esquecer tudo isso. É o que eu sempre fiz”.
Treina mais que profissional?
“É difícil comparar, pela variedade de esportes que a gente tem. Mas em geral, pelos valores que a gente ganha, eu treino muito mais do que eu recebo. Se for comparar com qualquer esporte no Brasil, até excluindo o futebol, como basquete, vôlei… a gente não ganha o que a gente treina. Tem treino extra fora do campo, treino individual, não dá para comparar. Eu treino muito mais do que eu deveria (risos)”.
Nota: atualmente, Felipe é contratado da CBRu para defender a seleção e também recebe um valor mensal do bolsa-atleta.
A vida após a Olimpíada
“Acredito que após a Olimpíada, quando já vou ter 30 anos, pretendo jogar mais um ou dois anos. Mas claro que se não tiver nenhum molecão para tirar o velho aqui de campo, vou continuar. E quanto mais tempo puder estar em campo ajudando meus companheiros, vou estar. Mas em alta performance, é mais um ou dois anos, se meu corpo deixar. Mas como lazer, vou ter 50 anos e vou estar jogando aqui, trazendo meu filho ou minha filha para jogar. É um amor que não vou largar nunca”.