Provocações da imprensa e confiança nas alturas aumentam clima da final
UOL Esporte
Por Bruno Romano
(Capitão dos All Blacks Richie McCaw é peça chave na decisão, e o principal alvo da mídia australiana)
Enquanto os fãs de rúgbi esperam ansiosos pela final do Mundial 2015, as principais mídias da Nova Zelândia e da Austrália tem se divertido antes do duelo deste sábado com análises e provocações. Por trás de cada brincadeira, vêm à tona pontos chave do jogo que devem definir o primeiro tricampeão mundial.
Os neozelandeses discutem como parar David Pocock e a terceira-linha australiana, enquanto exaltam uma geração vencedora e clamam pelo favoritismo, mesmo reconhecendo um perigoso rival. É um espelho do time: motivados e embalados, mas certos dos desafios.
Já a imprensa australiana segue a postura do time, algo como: se chegamos até aqui, podemos (e vamos) vencer. Os especialistas mostram os pontos fracos do adversário, esbanjam confiança, e ainda fazem de tudo para pegar no pé do capitão Richie McCaw, segundo eles tratado de forma “diferente” pela arbitragem.
Essa não deve ser uma preocupação real na decisão deste Mundial 2015. O galês Nigel Owens, escolhido para a missão, foi o melhor nome possível. Enquanto não soa o apito inicial, Owens também roubou manchetes nesta semana pela ótima fase – e pelo fato de já ter assumido sua homossexualidade.
“Eu só espero que o rúgbi seja o vencedor desse jogo”, disse Nigel à World Rugby TV, canal oficial da entidade máxima do esporte. “Se eu participar da menor forma possível da partida, então meu trabalho estará bem feito. Se ninguém falar do árbitro depois do jogo, serei um homem muito feliz”, completou Owens, de 44 anos, com 67 partidas internacionais no currículo.
A escolha de Owens deve colaborar com um jogo bem fluído. Por mais que as últimas finais tenham registrado poucos tries e resultados apertados, é impossível não contar com momentos de rúgbi ofensivo e aberto, com Nova Zelândia e Austrália decidindo uma Copa pela primeira vez na história.
Em meio a tudo isso, jogadores e treinadores têm preferido evitado os microfones e os gravadores na concentração, além de polêmicas nas entrevistas coletivas. Mesmo assim, as poucas palavras que soltam ajudam a medir o que All Blacks e Wallabies vão levar a campo.
“O segredo é sempre elevar o nível, em cada jogo da Copa, só assim podemos encarar a final”, crava Stephen Moore, capitão dos Wallabies. Traduzindo: vai ser preciso fazer mais do que mostraram até aqui para bater os All Blacks. Os Wallabies sabem disso, tem qualidade, e vão arriscar tudo ou nada.
A Austrália reconhece (e sente) um caminho mais cansativo – e os All Blacks sabem bem disso. O treinador da Nova Zelândia, Steve Hansen, soltou: “eles têm preocupações como Israel Folau, claramente com problemas físicos, o que está afetando sua confiança; o scrum deles deu um passo atrás sem Scott Sio, e a poderosa defesa que parou os Pumas me parece vulnerável nos canais internos”. Se há alguém apto a romper a muralha amarela, são os All Blacks. Só os escoceses conseguiram até agora, nas quartas-de-final, com um treinador neozelandês, aliás.
O comandante australiano Michael Cheika fez questão de dar um ar de positividade e tranquilidade para os perigos das lesões. “Já falei com a equipe médica, e todos estão até melhores do que a gente pensava. Não importa o que acontecer, estamos prontos para qualquer coisa, vamos colocar nossos corpos na linha de frente para uma batalha de 80 minutos”. Difícil acreditar que grande parte do time estará 100% fisicamente na final. Mas a postura de Cheika já trilha o caminho da superação. E disso não há como duvidar.
Quem também deu seus palpites foi o ex-jogador dos All Blacks Jonah Lomu, que perdeu sua única final de Copa em 1995, mas é considerado como um dos grandes nomes da história do esporte. Lomu impressionava ao atropelar adversários, e redefinir sua posição, a de ponta, ocupada hoje por Julian Savea, o artilheiro da Copa.
“Se há um time que pode atrapalhar a vida da Nova Zelândia, é a Austrália, a única que os venceu esse ano”, diz Lomu. “A velocidade da Austrália nas disputas de bola vai dar dor de cabeça aos All Blacks”, sugere.
A preocupação existe. E é saudável. Para o camisa 9 dos All Blacks Aaron Smith: “Tudo o que temos feito e falado nos últimos anos se refere a esta semana, a este jogo. Olhamos as forças e as fraquezas da Austrália, mas não sabemos exatamente o que eles vão fazer. Então, no fim, é mais sobre o que nós vamos fazer.”
Ninguém duvida de que os All Blacks vão mostrar toda a sua força. O que os Wallabies querem (e precisam) duvidar é se será suficiente para ganhar a taça.
(Líder dos Wallabies, Stephen Moore reconhece que é preciso jogar mais para vencer os All Blacks)