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Brasil supera falhas, surpreende Canadá e faz história na despedida do ARC

UOL Esporte

O abertura Josh Reeves tenta escapar da marcação canadense no Pacaembu (Fotojump)

Por Bruno Romano

O despertar brasileiro na elite do rúgbi ganhou mais força na noite desta sexta-feira. Com uma emocionante virada nos últimos minutos, os Tupis venceram o Canadá (24-23) pela primeira vez na história, fechando o Americas Rugby Championship (ARC) com dois triunfos em cinco jogos, o que rendeu a quarta colocação geral.

A vitória veio no mesmo Pacaembu chuvoso que recebeu boa estreia brasileira batendo o Chile, no começo de fevereiro. Depois das três quedas doídas pelo caminho até aqui, contra Uruguai, Estados Unidos e Argentina, a seleção se reergueu para fechar o torneio em alta.

Pode não ter sido um rúgbi de primeira, mas o placar premiou uma equipe que se negou a desistir e fez por merecer.

De pior ranking entre as seis seleções que entraram no ARC, o Brasil pode avançar bem e chegar a um top 30 na lista da World Rugby da próxima segunda-feira. O número, por si só, não interessa tanto. O que vale é seguir o embalo desta geração corajosa que vem dedicando a vida ao esporte, sem se esquecer de que ainda há muito a fazer.

Se as derrotas para os EUA e a Argentina XV (time de desenvolvimento dos Pumas) deixaram um ar de preocupação, ao menos a saideira no Pacaembu lavou a alma de uma dura competição com cinco rodadas seguidas – um ritmo e um nível de batalha no qual os Tupis começaram a se acostumar pra valer apenas no ARC em 2016.

O fato de o Canadá ter vindo com sua equipe de desenvolvimento também não tira o brilho e a importância da vitória. Vários atletas do time principal – 20o na lista recente do ranking –jogaram o último Mundial de 2015, grande sonho dos Tupis. A tática canadense foi guardá-los para o segundo tempo. Mas o tiro saiu pela culatra.

Com mais vontade de vencer desde o início, o Brasil transformou as chances de ataque que teve em pontos. A maioria veio de vacilos canadenses, é verdade, mas pouco importa. O talento brasileiro aflorou e achou espaço na tímida defesa rival.

Melhor nos duelos dos conjuntos (forwards e backs), os Tupis também pareciam mais entrosados no todo, conseguindo deixar a temperatura do jogo sob controle. Enquanto os minutos passavam, o Canadá mostrava sentir a perda recente para o Uruguai e o ritmo de fim do torneio.

Já o Brasil seguia outro caminho, confiante e inteligente nas decisões, ainda que cometendo antigos erros – nem vamos falar muito dos vacilos nos laterais e do excesso de penais, pontos óbvios para evoluir.

Quando a organização coletiva falhava, a vontade de se superar entrava em cena e inflava os Tupis. E foi esse sentimento que embalou o último try, em rápida jogada de contra-ataque, a pouco tempo do fim.

''Esta história só tende a se repetir'', decretou Moisés Duque, depois do apito afinal. O primeiro centro, autor de um try no duelo e de todos os pontos de chutes do Brasil já havia guardado entre os postes outro tiro decisivo, no ARC do ano passado, quando os Tupis bateram os EUA, também de forma inédita e, curiosamente, pelo mesmo placar.

Tomara que a história se repita logo, pois o Sul-Americano vem aí, com a edição 2017 valendo pelas eliminatórias do Mundial 2019, no Japão. E que vitórias como essa não nos iludam, mas nos encham de ânimo para seguir acreditando no rúgbi brasileiro.