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Herói da base e revanche: os ingredientes do Curitiba campeão do Super 8

UOL Esporte

Foto: Susi Seitz/Curitiba Rugby

Foto: Susi Seitz/Curitiba Rugby

Por Bruno Romano

Cem minutos de rúgbi não foram suficientes para decidir o campeão brasileiro em 2016. Após 80 minutos de jogo normal e mais 20 de prorrogação, a final do Super 8 terminou em uma disputa de drop goal, dando ao Curitiba seu segundo título nacional na história.

A cena é inédita em decisões do rúgbi brasileiro – e raríssima também no cenário internacional. Semelhante aos pênaltis do futebol, cada equipe define cinco chutadores, que precisam acertar a mira no “H” (os postes ou paus) com um tiro de bate-pronto, sem interferência de rivais, a 22 m de distância do alvo.

Coube ao garoto Leonardo, natural de Toledo (PR), acertar o último e decisivo chute, marcando 2-1 na disputa de drops. Fruto de um dos projetos de base que tem fomentado o rúgbi curitibano, o reserva que entrou nos minutos finais da prorrogação aponta que o trabalho dos paranaenses ainda tem um futuro bastante promissor.

O título celebra também uma arrancada fulminante dos Touros, apelido do clube de 1983, agora bicampeão nacional. Na semana passada, os curitibanos carimbaram a vaga em sua terceira final seguida na última chance possível, ao despachar o São José, campeão nacional de 2015.

Não custa lembrar que o Desterro havia vencido os dois duelos diretos na fase inicial do torneio (24-21 e 31-8), ingrediente que aumentou o nível de tensão da final.

Antes do ”anticlímax” da bizarra disputa de drops, o jogo foi marcado pelo trabalho de base e o contato físico – as duas grandes armas do Desterro, que o Curitiba soube neutralizar.

Em uma partida de muito mais erros do que acertos, as defesas combativas chamaram mais atenção do que os ataques pouco ou nada criativos (o que explica o 3-3 do primeiro tempo).

Na etapa decisiva, a força física e o conjunto de forwards do Curitiba falou mais alto. Os Touros dominaram o território, pontuaram de pouco a pouco e encaminharam o duelo para uma vitória.

Mas os catarinenses, donos de uma campanha com 14 triunfos em 13 jogos neste Super 8, não desistiram, a ponto de guardar um try de difícil marcação do árbitro nos lances finais – o replay da TV sugere que a bola não foi apoiada no in goal.

Polêmicas a parte, o título é justo e merecido – e também seria se tivesse acabado do outro lado.

Não à toa, todos os jogadores se cumprimentaram após o fim da prorrogação, em um daqueles momentos que marcam a essência do rúgbi. Eles pareciam concordar, depois de 100 minutos de batalha, que o empate comprovava que ali haviam dois vencedores.

De fato é uma vitória conjunta do rúgbi do sul do país, região que tem crescido muito nos últimos anos – foi a primeira final de brasileiro sem equipes paulistas desde 1979.

E também confirma um clube que tem feito a lição de casa, da base ao alto rendimento, faturando dois títulos nos últimos três anos, mesmo assim sem representantes na seleção nacional.

Talvez o resultado mude os planos neste fim de temporada de clubes. Com os olhos focados agora na seleção, algum “touro” ainda pode pensar em carimbar passaporte para a Europa na dura gira de três jogos (dois contra a Alemanha e um contra Portugal) que o Brasil encara neste fim de ano.

Com certeza vale sonhar. Ainda que, agora, a realidade de campeão seja compensadora e saborosa demais para pensar nos próximos voos.