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Sistema de “cotas” acende polêmica e divide opiniões no rúgbi sul-africano

UOL Esporte

Fikile Mbalula, ministro do esporte da África do Sul (Frennie Shivambu/Gallo Images)

Fikile Mbalula, ministro do esporte da África do Sul (Frennie Shivambu/Gallo Images)

Por Bruno Romano

''Cotas no esporte são um insulto'', declarou o ministro do esporte sul-africano Fikile Mbalula, que acompanha de perto a série de jogos entre Springboks e Irlanda neste mês – os europeus venceram os donos da casa na estreia, na Cidade do Cabo, pela primeira vez em sua história no último fim de semana.

Mbalula, no entanto, elogiou o trabalho do novo treinador Allister Coetzee, que tem ajudado a dar força ao programa chamado de ''transformação''. A meta é igualar a porcentagem (50-50) de atletas brancos e negros na seleção da África do Sul até 2019.

''Como é possível jogar em uma seleção sem ter mérito? Este mérito não está desassociado com a transformação que queremos. Eu não quero cotas, e também não quero que essas metas sejam cumpridas apenas para deixar um ministro feliz. A questão aqui é integrar a sociedade'', disse Mbalula à SA Rugby Magazine, principal publicação especializada do país.

O assunto é polêmico. E já faz muito tempo. Desde que o ex-presidente Nelson Mandela prestou apoio à seleção no título mundial de 1995, associando o rúgbi a uma união inédita no país (história eternizada em livro de John Carlin, Playing the Enemy, e filme de Clint Eastwood, Invictus), o tema cotas se repete.

O novo programa – assinado pelas uniões de rúgbi, pela federação nacional (SARU) e pelo ministério do esporte – estipula 50% de atletas ''não brancos'' até a Copa de 2019, sendo que 60% destes têm de ser negros. Bryan Habana, por exemplo, campeão mundial em 2007 e eleito melhor jogador do planeta no mesmo ano, é considerado um atleta de ''raça mista''.

Desde que se anunciou publicamente, em 2013, que as federações esportivas adversas ao programa receberiam boicotes na hora de se candidatar a sede de torneios internacionais, o ministro Mbalula e os dirigentes da SARU, insatisfeitos com a evolução do programa que ajudaram a instaurar, têm tratado o tema com mais agressividade.

Na época, Jurie Roux, principal executivo da SARU, reforçou que o programa não era de forma alguma um ''sistema de cotas''. Segundo o raciocínio dos comandantes, já há diversos talentos disponíveis no país, mas as estruturas do esporte, formadas em anos de Apartheid, só privilegiam ''um lado'' da história.

A avaliação das entidades nos últimos meses é de que o ex-treinador dos Springboks, Heineke Meyer, não estava agindo de acordo com o combinado. Acontece que a escolha de atletas desta forma – e o próprio sistema chamado de transformação – não é unanimidade entre os fãs do esporte, nem mesmo no meio do rúgbi.

Há relatos de atletas profissionais nos últimos anos se dizendo desconfortáveis, tanto quando convocados como quando deixados de fora, devido à medida.

Por mais de 50 anos, atletas negros foram banidos de representar a África do Sul em diversos esportes antes do fim do Apartheid. Ainda que o tema tenha avançado, soluções dúbias como a de Mbalula não parecem apontar para uma solução definitiva.