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Inédito título europeu do Saracens confirma renascimento do rúgbi inglês

UOL Esporte

Jogadores do Saracens, de Londres, erguem a Champions Cup 2016 na França (David Rogers/Getty Images)

Jogadores do Saracens, de Londres, erguem a Champions Cup 2016 na França
(David Rogers/Getty Images)

Por Bruno Romano

Pela primeira vez em sua história os londrinos do Saracens chegaram ao topo da Europa, com uma vitória indiscutível neste fim de semana (21-9) sobre os franceses do Racing 92 na decisão da Champions Cup, a Copa Europeia de Rúgbi.

O jogo sem tries foi emblemático ao trazer de volta à Inglaterra a maior honra do continente depois de nove anos de jejum – o último título de um clube do país havia sido o dos Wasps, em 2007.

Mais do que a taça inédita, o triunfo é um sinal definitivo da volta por cima do rúgbi da Inglaterra. Neste ano, poucos meses depois do vexame da precoce eliminação no Mundial 2015, o país também faturou o Six Nations, maior torneio de seleções da Europa.

Os dois títulos foram invictos, o que chama ainda mais atenção. Foram cinco vitórias seguidas da seleção inglesa e nove do Saracens, o primeiro time na história da Champions Cup (ex-Heineken Cup) a faturar o torneio sem sequer um empate na campanha, em 21 anos de competição.

O curioso é a que a primeira final entre um time de Londres contra um de Paris foi decidida na defesa. Todos os 30 pontos saíram de chutes aos postes. Nem por isso o jogo foi ruim, muito pelo contrário.

Mas a estatística comprova a diferença nas propostas e nos estilos de jogo do hemisfério norte e sul – o último dominou a Copa do Mundo 2015 com as quatro primeiros colocações: Argentina (4o), África do Sul (3o), Austrália (2o) e Nova Zelândia (1o).

É justamente da Nova Zelândia que vinha a esperança do Racing para superar o “imbatível” Saracens. O camisa 10 Dan Carter, atual “melhor do mundo” pela World Rugby, não conseguiu jogar a 100 % da sua condição física.

Carter suportou o primeiro tempo, sem destaque, e saiu no começo do segundo. Sequer chutou aos postes, sua grande arma em jogos decisivos, graças a um incômodo no joelho direito.

Quem brilhou de verdade foi Owen Farrell, o camisa 10 do outro lado. Representante da nova geração inglesa, Farrell é visto como o substituto natural de Jonny Wilkinson, ex-abertura, já aposentado, que conquistou o Mundial de 2003 pela Inglaterra e fez parte da recente e vitoriosa história do Toulon, clube campeão europeu em 2013, 2014 e 2015.

Aos poucos, Farrell vai mostrando que é capaz de carregar esse peso e cumprir essa dura missão. Ele anotou todos os 21 pontos do Saracens e foi o maestro do time com a bola em jogo. Mesmo jovem, com 24 anos, fez uma final memorável. E ele não está sozinho.

O gigante segunda-linha Maro Itoje, 21, celebrou o título e o merecido prêmio de homem do jogo – daqui a alguns anos, se seguir o ritmo, deve ser reconhecido como o melhor do mundo.

O trabalho de longo prazo do Saracens, construído com paciência e inteligência, colheu seus primeiros frutos. Não é o rúgbi mais bonito da Europa, longe disso. Mas é o mais eficaz e efetivo.

Construir a vitória em uma final com base na defesa não é demérito. Aliás, pode ser um bom começo para alcançar os gigantes do sul. Seria algo como: aprender a pará-los primeiro, para depois descobrir como pontuar contra adversários mais fortes, rápidos e técnicos.

Por tudo isso, não foi apenas o Saracens de Londres que triunfou na Champions Cup. Foi toda a jovem garotada inglesa que deu um recado ao mundo do rúgbi. E o clube de vermelho e preto é importante parte deste processo. Não à toa, parecem ter, mais do que vencido um título, começado uma nova hegemonia no pedaço.

A rápida volta por cima do rúgbi inglês, ao que tudo indica, é o início de um grupo de jogadores que vai dar trabalho nos próximos anos.

Uma geração que nasce com a cicatriz de um mundial trágico jogado em casa, mas que já provou ter uma essência corajosa e talentosa. Outras vitórias, como esta do Saracens, parecem ser só questão de tempo.