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As “vitórias” e as “derrotas” por trás do empate do Brasil com o Chile

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O “Tupi” Felipe Sancery acha espaço na defesa chilena em duelo do Sul-Americano. Foto: João Neto/FOTOJUMP

O ''Tupi'' Felipe Sancery acha espaço na defesa chilena em duelo do Sul-Americano. Foto: João Neto/FOTOJUMP

Por Bruno Romano

No rúgbi, empates são tão raros como difíceis de explicar. Como traduzir, por exemplo, os 20-20 entre Brasil e Chile, em eletrizante duelo pelo Sul-Americano disputado neste fim de semana no estádio do Pacaembu?

Logo de cara, para o Brasil, o empate é sinal claro de evolução. Para o Chile, a confirmação de que os Tupis serão cada vez mais perigosos. Mas o placar também esconde detalhes chave do jogo.

O mais curioso deles: como conseguir manter o duelo equilibrado até o fim, mesmo perdendo os lances de scrum fixo e desperdiçando importantes chutes aos postes?

Por dois motivos: 1) Mérito de um time que aprendeu a jogar coletivamente, que admitiu seus erros na estreia contra o Uruguai sem desviar o foco, e trabalhou para melhorar. Mesmo diante das fraquezas do dia, o Brasil manteve a confiança alta e acreditou em si próprio até o fim; 2) O Chile foi pouco (ou nada) ousado e criativo. Um time forte e valente, é bem verdade, mas muito previsível. Uma equipe que começou com tudo para dominar o jogo, mas logo aceitou a reação brasileira e não soube reagir.

Usar o elenco como tática foi outro acerto em cheio do Brasil. Jogadores como Stefano Giantorno e Ige, titulares nas últimas partidas, entraram no segundo tempo para manter o ritmo lá em cima.

Se o trunfo contra o Uruguai, em um jogo de mais erros do que acertos, foi terminar a partida em velocidade máxima, o feito contra os chilenos foi reduzir altos e baixos em uma mesma partida – tarefa sempre difícil no rúgbi.

Ter se mantido fiel ao plano de jogo também trouxe recompensas ao grupo. A pressão na defesa e a aposta no contra-ataque, bases da proposta brasileira, funcionaram bem. E a boa condução do ritmo e do ímpeto do time pelo camisa 9 Lucas Duque chamou atenção.

É difícil reagir a um incomum empate depois de 80 minutos de batalha. Mas os Tupis saíram do Pacaembu fortalecidos, já que ficaram a um lance de escrever na história o que seria apenas a segunda vitória contra o Chile em todos os tempos – o que só comprova o tamanho real do desafio.

Transformar este embalo em ainda mais treino e motivação é chave para bater o Paraguai no próximo fim de semana, em partida final e decisiva do Sul-Americano. Quem perder, disputa repescagem para descer ou se manter na divisão principal.

Ainda que, no papel e nos resultados (o Chile venceu os paraguaios por 68-07), o Brasil pareça bem superior, o jogo é traiçoeiro. Brasil e Paraguai carregam uma rivalidade histórica. E os Jacarés costumam crescer, ainda mais em casa.

Entender e respeitar isso é o primeiro passo. O segundo é óbvio: se preparar forte durante a semana. O terceiro será fruto da cobrança natural (e justa) depois do bom jogo contra o Chile: entrar ligado e aplicar força máxima, nas ações e na mentalidade. O resultado, que pode ser bem positivo se isso tudo for feito, é apenas consequência.