Celeiro de craques do rúgbi é investigado e tem recursos bloqueados
UOL Esporte
Por Bruno Romano
Um enorme problema financeiro somado a processos judiciais ligaram o sinal amarelo para o rúgbi em Tonga. A ilha do Pacífico, que tem tradição no esporte e está diretamente conectada a lendas como Jonah Lomu e craques atuais como os irmãos Charlie e Siale Piutau, vive seu pior momento político – o que deve refletir negativamente dentro e fora de campo.
A crise na organização do rúgbi local fez com que a World Rugby congelasse os repasses dedicados ao país. A entidade destinou 3,5 milhões de libras (cerca de R$ 18 milhões) a Tonga entre 2012 e 2015, e agora questiona a forma como a verba foi utilizada.
Executivos da World Rugby estarão em Tonga na primeira semana de abril para tentar decifrar significativos déficits financeiros, múltiplos processos nos tribunais e a falta de transparência e governança independente na união local.
''Precisamos resolver estas questões antes de entrar em um acordo para os próximos repasses'', declarou ao portal neozelandês Stuff Will Glenwright, manager da World Rugby para a região da Ásia e da Oceania.
''Eles dependem destes recursos para seguir com os programas de desenvolvimento e alto rendimento da modalidade. Nós estamos conscientes disso, por isso priorizamos a viagem'', agregou Will.
Depois de terminar a última Copa do Mundo em terceiro lugar no seu grupo, Tonga precisa se classificar para a edição de 2019 do Mundial no Japão. A seleção de Sevens tonganesa também não tem vaga garantida nos Jogos do Rio 2016 – e o país tem tido dificuldade para se confirmar como força na modalidade olímpica nos últimos anos.
Os problemas de Tonga ressoam nas outras ilhas do Pacífico, reconhecidas também como locais de formação de grandes jogadores. Em Samoa, alegações de corrupção entre dirigentes levaram a uma greve de jogadores em 2014. O rúgbi do país passou por uma grande reforma institucional no ano passado.
Fiji, que se destaca com sua seleção de Sevens, compartilha alguns dos mesmos dramas. Junto a Tonga e Samoa, Fiji devem perder a chance de ganhar uma cadeira fixa no conselho da World Rugby, em reunião chave marcada para maio.
Nenhuma das três nações preenche os critérios para entrar no conselho – que tratam, entre outros assuntos, de eleições democráticas nas uniões locais e de cinco anos de contas auditadas por fiscalização independente.
Em novembro de 2015, a World Rugby havia anunciado que daria às nações ''Tier 2'', como é o caso das ilhas do Pacífico, mais voz (leia-se: votos) nas decisões do seu conselho. Também fazem parte deste grupo Tier 2 países que jogaram as duas últimas Copas do Mundo como Geórgia, Romênia, Canadá, Estados Unidos e Rússia.
''Eles [Tonga, Samoa e Fiji] precisam entender que há uma competição pelos investimentos, e que há outros países mostrando excelente governança'', explica Rob Nichol, executivo-chefe da associação de jogadores da Nova Zelândia, ao Stuff.
No ritmo atual, nações do segundo escalão que têm mostrado progresso começam a ser recompensadas com mais voz ativa – e grana da World Rugby para investir.
Espalhar o rúgbi por mais territórios (e mercados) é uma realidade. Se as ilhas do Pacífico não entenderem a importância do trabalho sério fora de campo, devem ficar para trás.