Mestre do Sevens, treinador revela segredos dos All Blacks para o Rio 2016
UOL Esporte
Por Bruno Romano
Se existe uma pessoa que entendeu bem o rúgbi Sevens, este cara é Gordon Tietjens. “Titch”, como é conhecido na Nova Zelândia, comandou a seleção de seu país em 12 títulos de Circuito Mundial. Durante 16 anos do maior torneio da modalidade, sua equipe só deixou o troféu escapar por quatro vezes.
No fim desta temporada do Circuito há um “prêmio” especial: a disputa de Sevens nos Jogos Olímpicos de 2016. Tietjens fala da Olimpíada do Rio como o auge de sua carreira. E ele explica o que será preciso fazer para chegar voando em agosto – mesmo com um começo abaixo do esperado no Circuito atual.
Em entrevista exclusiva, a poucas horas do chute inicial do Wellington Sevens (terceira etapa do Circuito Mundial, disputada neste fim de semana na capital neozelandesa), o técnico mais vitorioso da história da modalidade também fala do seu começo no esporte, da chegada do astro Sonny Bill Williams à seleção e dos maiores segredos do sucesso dos “homens de preto”.
O BLOG DO RÚGBI: A Olimpíada já mudou o Sevens de alguma forma, tanto dentro como fora de campo?
Gordon Tietjens: O Sevens já vem crescendo há um bom tempo. Quando eu comecei como técnico da Nova Zelândia, lá atrás, o torneio de Hong Kong era basicamente tudo o que importava. Aí veio o Circuito Mundial e os Commonwealth Games, que misturou o rúgbi com outros esportes. A partir daí, o Sevens foi ficando maior. Com o anúncio da Olimpíada de 2016, percebi que o grande objetivo da minha carreira seria levar meu time até lá.
Tenho certeza de que essa evolução do Sevens vai embalar nos Jogos de 2016 e 2020 e não vai parar. O Sevens exige atletas de verdade, com muito condicionamento físico. E é isso que atrai as pessoas: é um jogo rápido e furioso, competitivo e também muito cruel e impiedoso. A prova definitiva de que a Olimpíada foi boa para o esporte é que hoje há oito ou nove seleções capazes de vencer qualquer etapa do Circuito Mundial.
Há quem diga que o começo ruim da Nova Zelândia no Circuito Mundial 2015-2016 tem um bom motivo: atingir o auge mais próximo dos Jogos Olímpicos. Esse raciocínio faz algum sentido?
Meu foco agora está bem claro: achar os jogadores certos e as melhores combinações em campo para ganharmos o ouro olímpico. Fora isso, todos nós temos altos e baixos no rúgbi. Como times e como jogadores. Há tempos em que as coisas não se encaixam. Mas nós somos capazes de se recuperar, de voltar para onde estávamos antes. Somos a seleção que todos ficam de olho. Convivemos com esse sucesso no Circuito. Logo, quando encontramos barreiras, temos de encontrar, juntos, a melhor forma de superá-las. Se for este o caminho tortuoso para a gloria olímpica, que assim seja.
Como a chegada de Sonny Bill Williams afetou a seleção? E como a equipe o recebeu?
Ele é um cara que se dá bem com todo mundo, bem fácil de conviver. Ele já entrou na frequência do time. É empolgante ver isso, não só para a Nova Zelândia, mas para o Sevens em geral. Ele é um cara contagiante, os jogadores o seguem, pois ele tem muito a ensinar. Sonny Bill está com sede de informação. Mesmo com dois títulos mundiais pelos All Blacks nas costas, o Sevens é novo para ele. Ele está nervoso, é claro. Mas também confiante.
Essa habilidade de querer aprender é o que mais me chama atenção. É uma atitude extremamente profissional. Ele é um cara que trabalha muito forte, chega a ser impressionante. Ele também é uma estrela do esporte, mas sabe muito bem que tem que trabalhar tão duro como qualquer um por aqui. Quero que ele jogue entre os forwards, mas também vou testar entre os backs. O mais importante é ele entender tudo o que está acontecendo em campo.
O Sevens é reconhecido como um jogo mais “individualista” do que o XV. Como trabalha a cultura do rúgbi dentro da seleção?
Cultura de equipe é tudo em um time de Sevens. Quando os jogadores identificam isso passam a tomar atitudes corretas. Na Nova Zelândia, nós nunca colocamos o “eu” na frente. É sempre o coletivo em primeiro lugar. Veja, estamos falando de grandes atletas realmente dispostos a fazerem sacrifícios enormes. Não há atalhos para entrar no nosso time. Nossos jogadores treinam um para o outro, e jogam um para o outro. E essa é a essência da nossa cultura de rúgbi.
Por que escolheu o Sevens?
Eu joguei XV por muito tempo. Acabei indo parar em Londres, onde defendi o London Welsh. E foi lá que joguei Sevens e me envolvi com a modalidade pela primeira vez. É irônico, pois eu era estrangeiro e novato como treinador, e o primeiro time que eu comandei ganhou o Melrose 7’s, na Escócia. Foi lá que o Sevens nasceu. Ganhar meu primeiro torneio ali teve um significado muito especial. Depois disso tive oportunidades no rúgbi XV, sim, mas o Sevens é minha paixão. E eu ainda curto muito fazer isso.
Depois de dominar o mundo do Sevens por tanto tempo, como você se mantém motivado como treinador?
Estar envolvido na Olimpíada será o auge da minha carreira – e isso deve acontecer também com muitos jogadores. Isso tem me mantido bastante motivado. Estamos classificados, mas, para os atletas, será preciso trabalhar muito para entrar neste time. E eles sabem bem disso.
O que levou a Nova Zelândia a ser a seleção mais vitoriosa até hoje na história do Sevens?
Em primeiro lugar, você precisa de ótimos atletas, preparados para grandes desafios. Em segundo, há a disciplina. E quando falo em disciplina, estou falando de todas as áreas do esporte. Em terceiro está o desejo, aquela vontade de estar no topo. Acredite, há muitos jogadores excelentes na Nova Zelândia que acabam ficando de fora da seleção, pois não estão preparados para trabalhar duro – nada vem fácil na vida.
Tem outro ingrediente muito importante que é a força mental. No rúgbi, força mental significa atitude. Fora isso, você precisa levar esses caras até o limite. Isso é o que forma um grande jogador. Isso é o que forma um grande time.