Rúgbi reage a onda de atentados em Paris, e estreia do campeão é suspensa
UOL Esporte
Estava tudo pronto para o retorno do galáctico Toulon aos gramados do maior torneio da Europa. O clube do sul da França, atual tricampeão europeu (2013, 2014 e 2015), faria sua estreia em casa contra o Bath, da Inglaterra. Mas a partida válida pela primeira rodada do Campeonato Europeu de Rúgbi foi cancelada. Os dirigentes optaram pela precaução devido a sequência de atentados que assombraram Paris na última sexta-feira.
Mais três partidas em território francês neste fim de semana foram adiadas. Nos outros sete jogos que rolaram normalmente, ouve minuto de silêncio e manifestações em respeito às vítimas. A organização ainda vai remarcar as datas dos confrontos cancelados. E irá se pronunciar sobre os jogos marcados na França no próximo fim de semana.
O Campeonato Europeu – mais conhecido como Heineken Cup nas últimas temporadas – é para o rúgbi o mesmo que a Liga dos Campeões representa para o irmão mais velho futebol. Ele reúne as vinte melhores equipes do último ano nas competições nacionais do Reino Unido, Itália e França.
Na defesa do título, o Toulon começa a trajetória em um grupo com dois ingleses, Bath e Wasps, e um irlandês, o Leinster, três vezes campeão da Europa (2009, 2011 e 2012). A maior surpresa da primeira rodada, aliás, foi a vitória dos Wasps sobre o Leinster (33-6) em Dublin.
Saints (Inglaterra), Ospreys (Gales) e Munster (Irlanda) também estrearam com vitória. As duas únicas equipes francesas que entraram em campo, Toulouse e Stade Français, perderam para Saracens e Leicester Tigers, jogando na Inglaterra.
Os jogos mantiveram o embalo do alto nível do Mundial de Rúgbi 2015, realizado na Inglaterra e no País de Gales, entre setembro e outubro. Mesmo assim, a festa acabou ofuscada pela tragédia parisiense. Mensagens de apoio de clubes e torcedores foram registradas em vários estádios que receberam partidas desta rodada inicial.
Não faz muito tempo, em janeiro deste ano, outra investida de fanáticos religiosos abalou Paris – e teve resposta imediata da comunidade do rúgbi local. A redação da revista semanal Charlie Hebdo foi o alvo da vez dos extremistas. Em partidas do Top 14, o campeonato francês da primeira divisão, cartazes e camisetas expressavam o apoio dos rugbiers aos funcionários do Charlie assassinados.
O presidente do Toulon, Mourad Boudjellal, liderou os discursos de apoio às vítimas na época. Sua carreira de empresário começou justamente no mercado editorial. O grupo que o alavancou na carreira estava ligado ao Charlie. Vários de seus amigos ainda trabalhavam na publicação satírica durante os atentados.
Atualmente, Mourad é mais conhecido como o empresário que montou o time mais “galáctico” do rúgbi moderno. Depois de tirar o Toulon da segunda divisão, manteve-se firme na política de trazer reforços de peso, transformando a equipe de sua cidade em uma espécie de seleção planetária. Demorou para o grupo dar liga, é verdade, mas nos últimos anos, colheu frutos com títulos importantes.
Neste fim de semana, Mourad deixou mais uma vez o rúgbi de lado para comentar a situação do país. De família estrangeira, o dirigente disse ao L’Equipe que se sente hoje ainda mais francês do que antes. Mourad, que já teve seu escritório no mesmo local da casa de shows parisiense Bataclan (principal alvo dos ataques na sexta), defendeu que o momento é de união dos franceses, e não de separação. Caso contrário, seria uma vitória dos extremistas.