O Blog do Rúgbi

Inglaterra demite treinador após fracasso no Mundial de rúgbi

UOL Esporte

lanca

Depois da pior campanha em Copas do Mundo – e ainda dentro da própria casa -, a casa de Stuart Lancaster caiu. Foram 46 jogos à frente da seleção inglesa, com 28 vitórias. O treinador assumiu o posto – em definitivo – em Abril de 2012 e foi vice-campeão em todos os “6 Nações” que disputou (2012, 2013, 2014 e 2015).

Ele chegou ao cargo depois de uma má campanha inglesa no Mundial de 2011, na Nova Zelândia, marcada pelos problemas de indisciplina e racha no grupo. Seu nome foi visto pela opinião pública com bastante desconfiança, uma vez que não tinha tanta experiência em comparação com os que concorriam à vaga, como o sul-africano Nick Mallett e o neozelandês Wayne Smith. Lancaster havia treinado apenas o Leeds (2005-2007), sendo depois incorporado à comissão técnica das seleções de base da Inglaterra.

A expectativa para uma boa campanha na Copa do Mundo era muito alta. A seleção inglesa vinha de bons resultados, era relativamente jovem e bastante habilidosa. Além disso, jogava em casa. A vitória sobre as Ilhas Fiji não convenceu. Depois das derrotas diante do País de Gales (a 10 minutos do fim lideravam por 7 pontos) e da Austrália (por 20 pontos), as chances de classificação para a segunda fase tornaram-se nulas.

“Eu tomo a responsabilidade pelo desempenho da Inglaterra nesta Copa do Mundo”, disse Lancaster depois da publicação da decisão, um entendimento mútuo entre ele e a União Inglesa (RFU). No entanto, acrescentou: “Tenho muito orgulho do progresso que a equipe teve ao longo dos anos e das bases que foram criadas para o futuro”.

Sobre a última declaração, é inegável o legado dele para o alto-rendimento. Iniciado por Clive Woodward em 1997 e perdido no período de Martin Johnson (2008-2011), Stuart Lancaster reiniciou o processo de busca da identidade do rugby inglês: resgate do passado das seleções, do que significa ser inglês e atuar pela equipe nacional, da história que a envolve, por quem e para quem se joga. É deste trabalho que vem o lema da seleção: “Centenas antes de vocês. Milhares em volta de vocês. Milhões atrás de vocês.”, em alusão a quem já vestiu a camisa da equipe antes e a quem dá apoio para a seleção nacional.

O resgate de uma identidade é fundamental para a criação de uma cultura competitiva. Entretanto, não é o bastante. São inúmeros os erros apontados que levaram à queda de Lancaster. Talvez um deles tenha sido deixar o grupo muito fechado, o que proporcionou a ausência desta competitividade. Outro ponto que chamou muita atenção: a euforia. A expectativa para uma boa campanha era muito grande, por conta do desempenho estável da seleção nacional nos últimos anos e a boa performance dos clubes ingleses no cenário europeu. Essa atmosfera certamente chegou ao plantel e o que se percebeu foi uma Inglaterra em campo sem qualquer motivação.

O próximo treinador da seleção inglesa terá a difícil missão de conciliar os calendários da seleção e dos clubes, lidar com diversos interesses e reproduzir o ambiente competitivo que foi perdido em algum momento.

Por Virgílio Neto, comentarista da ESPN
virgilioneto.wordpress.com/
@virgiliofneto

Crédito da foto: Reuters/Eddie Keogh