Título mundial da Nova Zelândia nasceu de espírito de equipe e ética
UOL Esporte
Da Nova Zelândia, dos All Blacks! Tricampeões mundiais depois de vencerem a Austrália, no último sábado por 34 a 17, no estádio de Twickenham (Grande Londres), templo do rúgbi mundial.
Muitos dizem ser a melhor equipe da modalidade em todos os tempos. Pode ser mesmo. Além de exímios jogadores, a vitória nasceu de um espírito de equipe construído através de uma filosofia com base em ética de trabalho, valores, propostas de jogo e objetivos (individuais e coletivos) dentro e fora de campo. Um bom ambiente de trabalho, com boas pessoas e companheiros, para que os resultados dos jogos dependam apenas do desempenho do grupo. Não da arbitragem, nem dos erros do adversário. Uma cultura vencedora.
Clive Woodward, treinador da seleção inglesa na Copa de 2003, disse isso quando visitou o Instituto Australiano do Esporte, nos anos 1980:
“Para vencer, você tem que criar o ambiente competitivo certo e trabalhar arduamente na especialização de cada área fundamental em sua modalidade. Tudo naturalmente conduzirá para um rumo certo. O mito da superioridade australiana no esporte era apenas isso: mito. A mesma coisa aconteceria na Nova Zelândia e na África do Sul. A força deles repousa na sua cultura competitiva e nível adequado de preparação, não em alguma mágica genética. Nada assombroso. Essas equipes podem ser vencidas.”
Os All Blacks atingiram um nível máximo, é inegável. Dois campeonatos mundiais consecutivos. A equipe a ser vencida. Perdeu um jogo apenas neste ano. Por agora, espera-se que o plantel neozelandês seja renovado (tinha uma média de idade alta e com vários jogadores com mais de 100 jogos pela seleção). Renovação leva tempo e entrosamento. Consequentemente, o desempenho cai.
Será que vai ser isso mesmo?
Uma hegemonia duradoura pode diminuir o interesse pelo esporte. As outras seleções do mundo, dos mais diversos escalões, já estão trabalhando para alcançarem o topo. A África do Sul anunciará nova comissão técnica em dezembro. O renomado Guy Novés é o novo treinador da França. A Argentina trabalha a base de atletas de alto-rendimento e se faz presente nos mais importantes torneios. Pela Europa já se fala em sistema de acesso e rebaixamento no “6 Nações”, haja vista o desempenho de Romênia e Geórgia neste mundial.
A Copa do Mundo é de 4 em 4 anos. Mas ano que vem temos Jogos Olímpicos, “6 Nações” (da Europa e das Américas), “The Rugby Championship”, o Super Rúgbi (clubes/franquias da África do Sul, Argentina, Austrália, Japão e Nova Zelândia), Top 14 (Campeonato Francês), Premiership (Campeonato Inglês) e os campeonatos nacionais daqui também, como a Taça Tupi (segunda divisão) e Super 8 (primeira divisão). Para não falar dos estaduais.
Mundialmente, por enquanto, o mundo do rúgbi é dos All Blacks.
Por Virgílio Neto, comentarista da ESPN
virgilioneto.wordpress.com/
@virgiliofneto