Argentina e África do Sul transformam decepção em bravura para duelo final
UOL Esporte
Por Bruno Romano
(Camisa 10 dos Pumas e destaque da Copa, Nico Sanchez será o capitão da Argentina)
Tudo bem, a disputa pelo terceiro lugar do Mundial é sempre aquela partida que nenhuma seleção quer jogar – lá no início do torneio, claro. Mas diante do desafio desta sexta-feira, Pumas e Springboks têm motivos suficientes para deixarem tudo em campo usando potência máxima (ou o que resta dela, depois de seis jogos brutais). Quem pensar em tirar o pé do acelerador será engolido pelo rival.
Independente do que está em jogo – uma medalha de bronze, a “honra” de bater um adversário forte e a despedida com vitória – dá para cravar que a temperatura não vai ser morna.
Ainda acha que o jogo vai ser desinteressante? Vamos a um rápido teste, então. Tente achar alguém que recusaria ingressos para ver Argentina e África do Sul ao vivo em um jogo de Mundial.
Dentro de campo, dá para garantir que a intensidade dos Pumas vai ser a mesma da brilhante trajetória durante esta Copa. Mesmo com nove mudanças no time titular. Quatro por lesão e outras cinco por opção.
É claro que as qualidades do capitão Agustín Creevy, do “mago” Juan Martín Hernández e do “homem-try” Juan Imhoff são insubstituíveis. Mas as reposições do treinador Daniel Hourcade estão à altura – o elenco de 2015 é impressionante.
Com um time completo, daria para apontar em um empate técnico na escolha do favorito. Só que com tanta gente boa de fora, pode faltar gás para os Pumas. Mesmo assim, a Argentina deve levar ao Estádio Olímpico de Londres mais uma mostra de um rúgbi ofensivo e divertido, que tem um tempero “aventureiro”, mas também é bastante efetivo.
Também não dá pra esquecer que os Pumas bateram os Boks pela primeira vez na história neste ano. Mais do que isso: venceram em Durban, território “inimigo”, onde poucas equipes do planeta conseguiram fazer estrago.
Mais um triunfo, desta vez no Mundial, significa igualar a melhor classificação do país em Copas. Em 2007, os “Pumas de Bronce” superaram a anfitriã França na disputa do terceiro lugar. Conseguindo ou não, o ano de 2015 já é um marco definitivo de uma nova era Puma.
Do outro lado, os sul-africanos já mostraram que caráter, vontade e devoção ao rúgbi não são problemas deste time. Logo, devem encarar o jogo com seriedade e intensidade.
Some a isso a despedida do lendário Victor Matfield, aos 38 anos, jogando de capitão e titular na segunda-linha, e a possibilidade de Bryan Habana fazer história. Com um try, ele já passa a ser o maior tryman de todos os tempos em mundiais.
Além de Matfield, Ruan Piennar entra no time titular no lugar do contundido camisa 9 Fourie du Preez. O resto é o mesmo time que quase bateu os All Blacks na semifinal. É força suficiente para causar muita dor de cabeça aos Pumas.
Mas se no único encontro das seleções em mundiais (2007, semifinal), os Springboks cravaram 37-13, o duelo desta sexta deve ser mais apertado.
Os Boks se recuperaram da uma estreia trágica contra o Japão e já provaram que o rúgbi premia o esforço, a união e a atitude. Também deixaram claro na semifinal que dá para vencer os All Blacks – faltou muito pouco.
Os Pumas também querem fechar bem o que já é uma das histórias mais positivas desde Mundial. Contra a Irlanda, nas quartas, tiveram uma das maiores perfomances da sua história. Tem jogado um rúgbi que atraiu a atenção (e até a torcida) de vários fãs do esporte.
Precisa de mais? Bom, vale lembrar que essas pessoas dedicaram suas vidas inteiras para chegar a uma Copa. E vão defender seus países contra um adversário perigoso e impiedoso.
Sim, há um bronze em jogo, mas convenhamos o que realmente Pumas e Springboks têm a perder? Esse sentimento de “tudo ou nada” vai inflamar um jogo ainda mais aberto, ofensivo e intenso. Pode não valer muito, é verdade, mas vai ser imperdível.
(O gigante Victor Matfield, com a bola, entra de titular para liderar os Springboks na sua despedida da seleção)