Nova Zelândia x Austrália: as armas, os segredos e os detalhes da vitória
UOL Esporte
*Por Bruno Romano
Pergunte a qualquer (bom) treinador, jogador ou especialista em esporte: o que define uma final equilibrada, entre dois gigantes? Os detalhes. Em outras palavras, toda a história, a rivalidade e as estatísticas ficam de lado quando uma oportunidade de decidir o título aparece. Nessa hora não há mágica. E o rúgbi é conhecido justamente por premiar o melhor time – dessa vez, o prêmio é o maior de todos.
É por isso que só os detalhes desta final podem ajudar a decifrar quem pode levar a melhor em Twickenham, no próximo sábado, na decisão do Mundial 2015.
POR TRÁS DOS NÚMEROS
Os All Blacks têm o melhor ataque do torneio (256 pontos e 36 tries), mas a Austrália não fica muito atrás: 205 pontos e 26 tries. Não custa lembrar que os Wallabies encararam o grupo da morte, com jogos mais difíceis no caminho.
Os neozelandeses são mais incisivos: tem 61 quebras de linha de defesa contra 46 dos Wallabies e também somam muito mais metros conquistados (3.464 contra 2.379). Os All Blacks ainda cravam 53 offloads, os passes feitos após um contato – a Austrália tem apenas 35 –, evidenciando um estilo de jogo mais dinâmico e fluido, gerando continuidade.
O líder da Copa em offloads? Sonny Bill Williams, com 10. Um reserva All Black.
Quando o assunto é defesa, a avaliação é mais complicada (e traiçoeira). A muralha australiana tem ganhado merecidos elogios, ainda que os Wallabies tenham tomado 84 pontos (média de 14 por jogo), sendo 34 apenas contra a Escócia. A Nova Zelândia sofreu um pouco menos: 80 pontos.
A Austrália lidera, no entanto, o numero de tackles, com 726 até aqui. A estatística tem dois lados: talvez haja mais gente atacando do que deveria, mas pelo menos eles estão afiados na hora de colocar rivais no chão. A Nova Zelândia é a 9ª da lista de 20 seleções no quesito.
Os turnovers ou “roubadas de bola” marcam 45 a 42 para nova Zelândia. Acontece que David Pocock, camisa 8 da Austrália, é líder isolado com 14 turnovers. O primeiro All Black da lista é o também oitavo Kieran Read. Detalhe: Pocock jogou quatro vezes e Read seis neste Mundial.
TRAJETÓRIAS
São seis jogos sem perder para cada lado. Tirando as semifinais (duas batalhas intensas e extenuantes), o caminho da Austrália foi bem mais pesado.
O elenco australiano está claramente mais “baleado”. Para piorar, os All Blacks tiveram um dia extra de descanso, já que jogaram a semifinal no último sábado. Um dia a mais não decide jogo, mas ajuda muito (e pode fazer pequena diferença) nesta altura.
Os All Blacks impressionam até aqui pelo domínio das ações, pelo preparo físico e pelo poder de decisão. Por outro lado, a intensidade, a bravura e a recusa em entregar um jogo dos australianos são de aplaudir de pé.
DESFALQUES
A situação preocupa os Wallabies, que aguardam as respostas finais de Scott Sio (pilar), Matt Giteau (centro) e Israel Folau (fullback). Como é uma final, todos devem jogar. A questão é o quão longe eles estarão de sua melhor forma.
PODER DA MENTE
Os All Blacks parecem mais confiantes do que nunca depois de vencer o Mundial de 2011. O título tirou um peso enorme da seleção: depois de vencer a primeira Copa em 1987, acumulavam desastres atrás de desastres em mundiais. Perder apenas um jogo nos últimos 12 confrontos contra os Wallabies – e apenas três dos últimos 52 jogos – também gera uma boa dose de ânimo, para um time que vem sendo preparado há quatro anos.
Já os australianos encontraram um embalo improvável para um time formado em pouco mais de um ano (toda a comissão técnica foi renovada após um escândalo envolvendo polêmicas dentro e fora de campo). Ainda que jogar uma final seja motivação suficiente para qualquer time, vai ser preciso dominar o placar no início, para virar o jogo mental.
MANO A MANO
Quem leva a melhor em cada grupo de jogadores?
Primeira-linha: Nova Zelândia. A Austrália ainda aguarda confirmação do lesionado pilar Scott Sio, que pode equilibrar a disputa.
Segunda-linha: Nova Zelândia. Mesmo com a ótima atuação da segunda-linha australiana na semifinal, a dupla neozelandesa é mais dinâmica e completa.
Terceira-linha: Austrália. Sim, os All Blacks têm o lendário capitão Richie McCaw acompanhado dos versáteis Kieran Read e Jerome Kaino, que podem desequilibrar, mas Pocock e companhia (Michael Hopper e Scott Fardy) têm feito estragos maiores nos adversários pelos Wallabies.
Scrum-half e abertura: Nova Zelândia. O australiano Ben Foley tem sido mais perigoso até que o camisa 10 All Black Dan Carter no jogo corrido. Mas a execução de chutes e a frieza de Carter podem falar mais alto na sua primeira decisão. Neste Mundial, Carter já passou o All Black Grant Fox como maior pontuador neozelandês em Copas. Will Genia (#9 australiano) está muito bem na condução do jogo, mas o All Black Aaron Smith é mais decisivo.
Centros: Nova Zelândia. A dúvida se o brilhante camisa 12 australiano Matt Giteau estará 100% para a final, deixa a dupla Ma’a Nonu e Conrad Smith com leve vantagem. Com todos inteiros, é uma área muito equilibrada, que pode definir o jogo.
Pontas e fullback: Austrália. Ok, Julian Savea é o artilheiro da Copa, Nehe Milner-Skudder deve ser eleito a revelação e Ben Smith fecha o trio All Black com segurança e domínio do jogo. Mas Drew Mitchell e Adam Ashley-Cooper parecem mais aptos e sedentos para definir um jogo dessa grandeza, desde que Israel Folau (#15) se recupere bem para a final. Outra área decisiva e de extremo equilíbrio.
Banco de reservas: Nova Zelândia. A Austrália tem boas opções, mas não se igualam a intensidade que os suplentes dos All Blacks têm colocado em campo.