All Blacks ensinam como sobreviver à “carnificina” sul-africana
UOL Esporte
Por Bruno Romano
A vitória da Nova Zelândia sobre a África do Sul (20-18) na semifinal deste Mundial 2015 é muito mais do que uma heroica classificação para a grande final. É a confirmação de estarmos testemunhando a melhor geração do rúgbi de todos os tempos. É o mesmo que ver ao vivo equipes como o Brasil de 1970, no futebol, o Chicago Bulls de Michael Jordan, no basquete, ou atletas brilhantes como o tenista Roger Federer em seu auge.
Se você perdeu essa chance, não vacile no próximo sábado, dia da decisão da oitava Copa do Mundo de Rúgbi.
Em caso de mais uma vitória, os All Blacks serão os únicos tricampeões mundiais, além de quebrarem um enorme tabu, se tornando a primeira seleção a ganhar duas Copas seguidas.
Ninguém parece capaz de detê-los.
Quem tinha a maior chance, a também bicampeã mundial África do Sul, ficou pelo caminho, em um jogo que misturou a intensidade de uma luta de pesos-pesados com a inteligência de um duelo de xadrez.
Acontece que, no rúgbi, não basta escolher bem a próxima jogada: é preciso executá-la com perfeição. E nisso, ninguém supera os All Blacks.
Superioridade é muito diferente de vitórias fáceis – uma falsa impressão, para quem pode ter se ludibriado com o massacre contra a França nas quartas. A grandeza da Nova Zelândia, na verdade, fica clara quando ela ensina como bater gigantes como os Springboks.
Partir para o embate físico era suicídio. Logo, se seu time não aguenta a pancada por 80 minutos, é melhor atacar o território. Os All Blacks fizeram isso aliando intensidade e paciência. Fúria e inteligência. Organização e ousadia. Forças opostas que se complementam, se tornando poderosas demais para suportar.
A indisciplina no primeiro tempo, “à la Inglaterra”, foi o grande vacilo All Black, que poderia até ter custado mais caro – já que, no rúgbi, as faltas costumam ser convertidas em pontos contra, por meio de chutes. O excesso destas faltas aponta como o único perigo real para os homens de preto na disputa da final.
Os elogios não se resumem aos All Blacks. Pelo contrário. Os Springboks, que não estão na sua melhor forma, nem vivem o auge de seu rúgbi, ficaram a um chute de ir para a decisão – o que jogaria toda essa fábula All Black pelo ralo. Acredite, não é pouco.
Os sul-africanos apagaram o fogo All Black no combate direto. Como não tinham um grande arsenal anti-incêndio, foram com abafador mesmo (leia-se: tackles!). Na coragem. No mano a mano. E ainda foram melhores em várias áreas chave, como nos rucks, nos mauls e na maior parte dos scrums. Só foram dominados mesmo nos laterais.
Conseguiram assim entrar na cabeça de seus eternos rivais. Levantaram a dúvida, só que não conseguiram incomodar o território. Aproveitaram as chances de pontuar, mas faltou ousadia, criação e velocidade.
Não é demérito do time. Foi uma estratégia jogar assim. Talvez até a melhor escolha possível. Por apenas três pontos, não deu certo.
A defesa Springbok também foi heroica e falou mais alto. Basta dizer que o artilheiro neozelandês Julian Savea praticamente não pegou na bola. Quando o fez, logo foi para o chão.
O problema é que, ter os All Blacks tanto tempo dentro do seu campo, é o mesmo que jogar uma isca para um tubarão.
Estes Springboks podem sim ser lembrados lá na frente como aquele time que perdeu para o Japão. Mas ninguém nunca mais ousará colocar em cheque o caráter, a coragem e a integridade deste time, que se despede sem título, mas deixa um legado para a próxima geração.
Fortalecidos (e sobreviventes) da vitória, os All Blacks se testaram em um jogo bem parecido com o que deve ser a final. Truncado, fechado, apertado. Decidido nos detalhes.
Não espere um passeio All Black na decisão. Esteja preparado para um placar tão apertado quanto. Daqueles que deixam o caminho aberto para o imprevisível.
O treinador sul-africano Heineke Meyer já tinha falado que iria encarar o melhor time da historia do rúgbi nesta semifinal. Por trás do elogio, havia uma evidente “tática” fora de campo: deixar os All Blacks mais seguros do que o necessário.
Se foi a sua frase ou não, deu certo. Os Boks tiveram suas chances, e os All Blacks sentiram. Mas não se entregaram.
No fim, parece que Meyer estava certo…
O CARA: Steve Hansen. O atual treinador dos All Blacks já era parte da comissão técnica de Graham Henry no titulo mundial de 2011. Quatro anos depois, Hansen só perdeu três jogos, manteve o nível do time e está a uma partida de se consagrar junto da maior equipe da história.
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O drop goal do camisa 10 Dan Carter, maior pontuador da história do rúgbi, garantiu pontos valiosos para a vitória apertada deste sábado. Detalhe: foi apenas o segundo drop goal de Carter em 15 partidas de mundiais.
A FRASE: “Ele tentou criar em nós uma falsa sensação de segurança. Mas nós conhecemos bem os Springboks e sabemos que o que eles querem é arrancar nossas cabeças”, Steve Hansen, treinador dos All Blacks comentando a declaração do técnico dos Boks (e seu amigo) Heineke Meyer, afirmando que este elenco neozelandês é o melhor de todos os tempos.
LONDON EYE: Os Wallabies David Pocock e Israel Folau estão confirmados pela Austrália para encarar a Argentina, na outra semifinal do Mundial 2015. Ao lado de outra fera, Michael Hooper, Pocock e Folau são daquela linha de atletas capaz de desequilibrar e definir jogos grandiosos.
Os Pumas também vem com potência máxima. Ainda mais com a volta de Marcelo Bosch (#13), que cumpriu suspensão por tackle perigoso. Ele formará a dupla de centros com “el mago” Juan Martín Hernández (#12), outro que pode fazer estrago no jogo de domingo em Twickenham.