Rúgbi tirou solidão de chileno. Agora, ele ajudará brasileiros com recorde
UOL Esporte
As semifinais do Super 8, o campeonato brasileiro da modalidade, terão um atrativo a mais neste sábado (24). No intervalo da primeira partida, o Brasil tentará bater um recorde mundial: formar o maior scrum do mundo. A ideia é ter 1.160 fãs do esporte às 17h30, no estádio do Ibirapuera, em São Paulo. Para isso, vai contar com brasileiros e um chileno que se dedica muito ao esporte. Marcos Antonio Andrade Cortes, o Chiloko, como é conhecido pelos companheiros de clube, estará tanto na semifinal entre São Paulo Athletic Club e São José, que será às 16h (horário de Brasília), como na tentativa do recorde.
Nascido em Quillota, uma província de aproximadamente 75 mil habitantes que fica a 88 quilômetros da capital Santiago, no Chile, ''Chiloko'' é apenas mais um exemplo de alguém que veio pro Brasil em busca de uma nova vida. Filho de pai brasileiro e mãe chilena, ambos trapezistas de circo, Marcos resolveu tentar a sorte no país vizinho após separar-se da esposa.
A experiência, que se mostrou dolorosa no início, principalmente pela distância do filho Gabriel, de cinco anos, tornou-se mais amena ao encontrar nos colegas de clube o apoio necessário para superar os momentos difíceis. Os momentos de solidão o levaram a pesquisar na internet por um lugar perto de casa onde pudesse praticar rúgbi, foi aí que começou a parceria de sucesso entre Chiloko e o SPAC.
''O SPAC é uma família pra mim. A saudade é muito forte, tenho que fazer muitas coisas no dia para esquecer. Só passo em casa para dormir. No Chile tenho meus amigos, minha família e meu filho, que só vem pra cá nas férias'', contou Chiloko ao UOL Esporte.
O jeito despojado e brincalhão de encarar as situações lhe renderam o apelido de Chiloko, em alusão ao seu jeito maluco e sua origem, ostentada com muito orgulho em sua tradicional camisa da seleção chilena. E é em tom de brincadeira que ele conta como entrou para o esporte, detalhando como um hobby despretensioso tornou-se uma paixão e estilo de vida.
''Meu biotipo é de gordinho para jogar futebol. Um dia um amigo me falou que estava treinando rúgbi e eu fui conhecer. Treinei um dia, dois, e gostei. Já são 12 anos jogando, sendo que fui campeão regional na categoria amador no Chile em 2009'', declarou Chiloko, antes de relembrar a possibilidade de ser campeão novamente este ano.
Para conseguir o feito, o SPAC precisará reverter um histórico negativo nesta temporada. Apesar de ter a melhor defesa do campeonato até o momento, o clube paulista já foi superado em duas oportunidades pelo São José na primeira fase. Contente com o atual momento da equipe, Chiloko comparou o esporte no Brasil em relação ao Chile e disse ter ficado surpreso com o que encontrou por aqui. O jogo será disputado no estádio do Ibirapuera e terá transmissão da Sportv. Mais tarde, às 19h (horário de Brasília), o Bandeirantes Saracens pega o Curitiba em outra semifinal, no mesmo local.
''Pensei que o rúgbi brasileiro fosse pior, mas está muito bom o nível (dos atletas). O Chile também tem bom nível, mas têm três ou quatro bons times. Aqui tem vários. As pessoas estão conhecendo mais o rúgbi, principalmente as meninas. Tem muito clube que não pode vir para São Paulo, só pode jogar o campeonato local por falta de investimento. Mas o nível está encaminhando bem. Ainda é melhor que no Chile. Lá, de 100% (dos investimentos em esporte), 80% vão para o futebol, enquanto o resto é dividido entre outras modalidades. Era preciso ensinar rúgbi nas escolas, assim como outros esportes'', avaliou Chiloko.
Para a partida de sábado, Chiloko terá uma motivação especial além da possibilidade de chegar a mais uma final de Super 8. Ele receberá a visita de uma ''amiga'' que conheceu em Curitiba durante uma de suas viagens para jogar pelo SPAC.
''Eu estava no terceiro tempo de uma partida quando vi uma garota olhando para mim. Depois da partida, fomos para uma balada e essa menina estava lá. Por volta das três da manhã, encontrei a garota e acabou rolando um beijinho gostoso. Agora, nos falamos por WhatsApp e ela virá para São Paulo assistir ao jogo no sábado e participar do ''Maior Scrum do Mundo'', contou Chiloko, que apesar de ter gostado da garota, não acredita que o relacionamento vá pra frente. ''Ela mora em Curitiba e eu aqui, entende? Mas ela pode vir pra cá sempre e vai ser bem recebida, porque é muito gente boa também'', concluiu.
Paixão pelo futebol
Apesar de não torcer para nenhum clube específico, Chiloko não esconde sua paixão pela seleção chilena. No Brasil desde o meio de 2014, ele acompanhou de perto o desempenho da equipe de seu país na Copa do Mundo realizada no país.
A primeira parada aconteceu na Arena Corinthians, quando o Chile foi superado pela Holanda por 2 a 0 e descobriu que precisaria enfrentar o Brasil nas oitavas de final para seguir vivo na competição. Porém, se a derrota para os holandeses já havia sido sofrida, o pior momento estaria por vir na partida contra a seleção da casa, no Mineirão. Assim como Pinilla, Chiloko também guarda viva na memória a bola que acertou o travessão e impediu a classificação chilena para as quartas de final do torneio.
''Tá louco! Eu olhava para os meus parceiros, que estavam comigo no jogo, e eles estavam gelados'', brinca Chiloko, que aproveitou para celebrar o atual momento pela seleção chilena comemorar a ''vingança'' sobre o Brasil nas Eliminatórias.
''Assim que terminou o treino, fui correndo para ver o jogo, nos reunimos todos (os atletas do SPAC), mas já estava no final. Peguei minha bandeira do Chile e fiquei tirando foto com eles, brincando e tal. Foi muito legal.''
E, ao contrário de muitos chilenos, não é o meia Arturo Vidal, do Bayern de Munique, nem Alexís Sanchez, do Arsenal, o jogador favorito de Chiloko. Na verdade, trata-se de um velho conhecido do torcedor brasileiro.
''É o Valdivia! Joga muito! Sanchez, Vargas e Medel também são bons. Mas ele pega muita balada. Chegava muito bêbado na concentração, mas como é muito bom, a gente relevava. Ele sempre estava nas polêmicas, enganava a mulher, mas ela perdoava'', concluiu o chileno.
O vídeo mostra um super scrum feito na Inglaterra
Rodrigo Garcia
Do UOL, em São Paulo