All Blacks x África do Sul: Rivalidade e aposta de cerveja revelam grandeza
UOL Esporte
Por Bruno Romano
(Último duelo entre as potências, em julho, teve vitória apertada dos All Blacks: 27-20)
Ninguém discute que os All Blacks são o melhor time do rúgbi moderno – se preferir, do último século também. Alguns até definem como a equipe mais dominante do planeta, levando em conta todos os esportes. A declaração do treinador sul-africano Heineke Meyer, nesta semana prévia a semifinal do sábado, já serve como um bom parâmetro. Ele cravou o elenco atual neozelandês como o melhor time da história do rúgbi. Se os homens de preto de fato atingiram este nível, eles devem parte deste sucesso aos Springboks.
Ninguém faz mais frente à Nova Zelândia do que os sul-africanos. Enquanto as estatísticas comprovam – a porcentagem de vitória (41%) é maior do qualquer outra equipe – o fascínio dos fãs de rúgbi ajudam a bater este martelo. Quem pensa em perder a primeira semifinal do Mundial 2015? E quem ousa não acreditar que, mesmo com o grande favoritismo All Black, os Boks podem surpreender?
Para começar a entender como o rúgbi é mais do que um esporte em ambos os países, coloque em um campo a devoção, o esforço e a história dessas duas equipes. Nessa eterna e apaixonante busca pela excelência, All Blacks e Springboks seguem elevando o nível. O Mundial só potencializa a intensidade dessa rivalidade, que pode ser traduzida em evolução (dos times e do esporte).
Aliás, a própria arrancada dos neozelandeses rumo ao topo do mundo, desde que o rúgbi virou profissional em 1995, começou com uma grande derrota para os Boks.
Neste mesmo ano, depois de um longo boicote do rúgbi internacional (devido ao período de Apartheid), a África do Sul marcou era e venceu seu primeiro mundial em casa, batendo os já poderosos All Blacks. Os neozelandeses só foram conquistar sua segunda Copa do Mundo em 2011.
Neste meio de caminho, outra derrota para os Boks devastou os All Blacks em 2004, em Johanesburgo. De longe, pode parecer apenas um placar ruim (40-26), mas fora de campo foi devastador.
O rúgbi tinha virado profissional, mas alguns (maus) hábitos da era amadora eram notáveis. O treinador Graham Henry – mesmo que comandou o último título mundial – criou um novo grupo de liderança de jogadores, recuperou a conexão maori (ali veio à tona um novo haka, o Kapa O Pango), e estabeleceu uma nova ordem. Fez os All Blacks entenderem que precisavam merecer o privilégio de estar ali. Desde então, a porcentagem de vitória do time subiu de 75% para 85%.
Não é que os All Blacks viraram “anjos” da noite para o dia – Israel Dagg e Cory Jane foram pegos bebendo a 72 horas das quartas-de-final em 2011. Mas os erros passaram a ser vistos de outra forma, assim como ganharam novas soluções, baseadas em comportamento e méritos.
Mais do que isso, aos poucos, as medidas fora de campo se refletiram dentro dele, respeitando a mística All Black, mas sem perder as oportunidades de celebrar.
A própria história de grande rivalidade e amizade dos atuais treinadores envolve uma cerveja pós-jogo. O sul-africano Heineke Meyer revelou, às vésperas da partida decisiva deste sábado, como começou sua boa relação com o head coach dos All Blacks Steve Hansen.
“Depois de um jogo que nós perdemos, eu estava muito mal. Eu nem conhecia direto Steve, mas ele chegou e trouxe uma cerveja, dizendo que sabia como eu me sentia, tamanha a pressão que os dois lados estavam enfrentando”.
“Isso é o mais incrível do rúgbi, e eu respeito muito aquela atitude”, continuou Heineke. “No jogo seguinte, nós chegamos perto da vitória, mas acabamos perdendo de novo, e lá veio ele, me procurando para oferecer outra cerveja”.
“Falamos da tradição do rúgbi, da pressão de defender países como os nossos, e até das nossas famílias. Acabei conhecendo a família dele e ele a minha”, contou o comandante dos Boks.
“Mais do que essa amizade, hoje em dia nós aprendemos um com o outro. Temos um profundo respeito pelo jogo, queremos melhorar ainda mais nosso nível, e essa competição feroz entre nos só nos leva a adiante”.
“Depois daquela segunda bebida, eu disse para o Steve: não vejo a hora de chegar o dia em que eu vou te pagar. Aí começou a tradição: quem ganha oferece uma. Espero que neste sábado, após o jogo, eu possa levar para ele uma cerveja bem grande”.
(Heineke Meyer, à esquerda, e Steve Hansen se cumprimentam após vitória neozelandesa em 2014)