Sinal de alerta, lesões e longo jejum rondam a Austrália antes da semi
UOL Esporte
Por Bruno Romano
(FOCO: o capitão australiano Stephen Moore lidera os Wallabies às vésperas da decisão)
A Austrália começou com tudo o Mundial: superou o grupo da morte, eliminou a Inglaterra e despontou como a seleção mais “afiada” do torneio. Mas a perda de dois jogadores chave (David Pocock e Israel Folau) e um duelo quase trágico contra a Escócia nas quartas-de-final levantou suspeita.
Some a isso a força da Argentina – embalada, perigosa e sem nada a perder – e vai entender o tamanho da missão dos australianos no próximo domingo pela segunda semifinal desta Copa.
Durante a semana, atletas e treinadores fizeram questão de deixar claro que a confiança está em dia. O camisa 9 Will Genia, principal articulador da equipe, chegou a dizer que a partida apertada contra a Escócia é “irrelevante” agora.
O problema é que a classificação sofrida escancarou falhas defensivas – e ainda deixou claro como Pocock e Folau fazem falta. O camisa 8 (talvez o melhor forward do torneio até agora) e o fullback lutam para se recuperarem de lesão a tempo de entrarem na lista de titulares desta sexta-feira. O pilar Scott Sio também é dúvida.
Pocock e Folau não são apenas brilhantes individualmente como fazem parte da “espinha dorsal” do time. Os camisas 2, 8, 9, 10 e 15 carregam funções chave em uma equipe de rúgbi, e acabam sendo responsáveis por alicerçar várias áreas do jogo. Repare que essas posições não possuem pares em campo, ao contrário do que acontece com pilares (#1 e #3), segundas-linhas (#4 e #5), asas (#6 e #7), centros (#12 e #13) e pontas (#11 e #14), que têm “espelhos” para dividir o trabalho (e a responsabilidade) no gramado.
Além da dúvida dos lesionados, os Wallabies têm um pequeno tabu a quebrar. Das quatro seleções campeãs mundiais – Nova Zelândia, África do Sul e Inglaterra também levantaram o caneco –, a Austrália é a que não vence a Copa há mais tempo. São 16 anos desde o título de 1999, tempo em que o rúgbi mudou de forma mais rápida na história.
Desde então, os Wallabies chegaram a uma final (2003), foram eliminados nas quartas (2007) e caíram nas semis (2011) contra a atual campeã Nova Zelândia. Das sete Copas disputadas até hoje, a Austrália faturou dois títulos e estive em cinco semifinais (das quais passaram por três).
Não dar crédito aos Wallabies é loucura. Até por que o retrospecto direto contra os Pumas nos últimos 15 anos é de 10 vitórias nos últimos 11 jogos.
O último triunfo argentino aconteceu no Rugby Championship de 2014, em Mendoza. Detalhe: os Pumas contornaram um resultado de 14-0 para vencer. Historicamente, a chance de uma virada dessa acontecer em mundiais é bem pequena. Em apenas 4,3 % das partidas disputadas em Copas do Mundo uma seleção conseguiu reverter uma diferença igual ou maior do que 10 pontos. Em mata-mata a porcentagem sobe, mas pouco: 5,6%.
Se o placar ficar equilibrado, o sonho dos Pumas não vai parecer delírio – e o pesadelo dos Wallabies pode virar realidade. Do Mundial de 2011 para cá, a Argentina aprendeu de vez a vencer jogos grandiosos. O manejo de jogo (estratégia, decisão e execução) dos Pumas evoluiu de forma impressionante, a ponto de quase de igualarem suas chances contra os Wallabies nesta semifinal.
Eles também aprenderam a ser mortais em cima dos pontos fracos dos adversários. Apenas se Pocock e Folau voltarem, a balança volta a ficar mais pesada para o lado australiano. Caso contrário, tudo está em aberto.
(Oitavo australiano David Pocock faz de tudo para se recuperar para a semifinal)