Mundial de rúgbi: uma grande festa com a rivalidade na medida certa
UOL Esporte
Artigo escrito por Werner Grau
Vice-presidente da Confederação Brasileira de Rugby
O Mundial de rúgbi está sendo realizado na Inglaterra. Logo na primeira semana, após o jogo de abertura no majestoso estádio de Twickenham, foram realizadas partidas nos estádios de Wembley e Olímpico, em Londres, e em cidades como Brighton (aquela imortalizada pelo Queen em Brighton Rock).
Mas a maior parte dos jogos aconteceu em Londres, uma cidade tão grande, e dotada de vida tão própria, que o Mundial não alterou sua rotina. Como disse minha filha, o Mundial de 2011, concentrado em Auckland, parou a cidade (na verdade, o país, já que o rúgbi, na Nova Zelândia, é quase uma religião), enquanto, em Londres, não se viu algo parecido, o que reduz um pouco a mística do torneio.
Mas não só de Inglaterra vive este Mundial. Alguns jogos, importantes, foram realizados na belíssima Cardiff, no País de Gales. Aqui, como em Auckland, o mundo parece girar em torno do rúgbi, a começar pela bola gigante “encaixada” na amurada do Castelo de Cardiff.
A localização do estádio também ajuda, porque o gigantesco Millenium Stadium fica encravado na cidade, tendo em uma face o Rio Taff, que cruza Cardiff, e em outra uma das ruas principais da cidade, coalhada de pubs e restaurantes (mais pubs do que restaurantes) estrategicamente localizados em frente ao estádio.
Esse cenário alonga e transforma o espetáculo, que já não se restringe ao lado de dentro do estádio, passando a ocupar todo o dia quando se joga às oito da noite, como foi o caso de Nova Zelândia X França, pelas quartas de final do torneio.
Desde cedo, o entorno do estádio acumulava torcedores. E, aqui, dois fatos inusitados para quem está acostumado às facções do futebol: primeiro, a mistura de neozelandeses e franceses, somados a irlandeses e argentinos, bem como galeses e sul-africanos (que foram aos pubs assistir Gales e África do Sul, que se enfrentaram em Londres). Tudo na mais alta harmonia e respeito. As rivalidades ficam para o campo, exclusivamente.
O segundo fato inusitado é a forma de se vestir dos torcedores. Os irlandeses, quando não estão vestidos de leprechaun (duendes), trajam ternos verdes, com trevos de quatro folhas em destaque; os franceses, sempre tricolores, vestem-se de Asterix, de Obelix, ou simplesmente pintam-se nas cores de seu país. Argentino, barulhentos, “vestem” a bandeira do país, enquanto somente os neozelandeses mantêm o preto nas camisas de sua seleção e comportam-se de forma mais comedida.
Nessa grande festa, ganha o esporte, que tem rivalidades na medida certa – exclusivamente no campo, e durante o jogo – e o respeito como centro, e os torcedores, que chegam à região doe estádio horas antes do jogo, e podem se divertir com segurança e tranquilidade.
Cardiff, menor do que Londres, e com esse desenho em que o estádio é abraçado pela cidade, contribui para um ambiente excepcional. Respirando rúgbi, fomos ao Castelo de Cardiff e, enquanto visitávamos o lugar, ouvíamos os argentinos e irlandeses cantando, e os franceses entoando hinos.
Ao final de um jogo eletrizante, voltam todos aos pubs, agora para debater o que se viu em campo. E, em nossa mesa, sentam-se pessoas de oito países distintos, para uma conversa em que, ao final, só duas regras valem: o tema tem de ser rúgbi; e, em qualquer hipótese, somos todos amigos, pouco importando quem ganhou ou perdeu, mas valendo a vontade de conversar sobre esse esporte que, se ainda não te pegou, vai te cativar em breve.
Cardiff pode não ser a principal cidade dos jogos deste Mundial. Mas merece, sem dúvida, o título de capital do rúgbi; ou, se preferirem, a Jóia da Coroa.