Por que os All Blacks são uma máquina de fazer tries?
UOL Esporte
Por Bruno Romano
(Artilheiro: em seu primeiro Mundial, o neozelandês Julian Savea já anotou oito tries)
Você nem precisa ser um grande fã de rúgbi para perceber como é difícil vencer os All Blacks. Mas já parou para pensar no tamanho da encrenca que é tentar barrar um deles? O físico neozelandês (e fã de rúgbi) Geoff Willmott ficou tão curioso que decidiu medir o impacto. Ele escolheu, claro, o ponta Julian Savea, artilheiro deste Mundial 2015 e autor de três tries contra a França nas quartas-de-final.
Aos 25 anos e com 112 kg, Savea atingiu a marca de 7,5 metros por segundo em seu terceiro try, gerando uma energia cinética equivalente a um ônibus de três toneladas se movendo a 3 km/h. Segundo Willmott, em entrevista ao portal neozelandês stuff.co.nz, seria preciso aplicar a força de 300 newtons durante três segundos, para detê-lo.
Para comparar o que isso significa na prática, se colocar uma pessoa “normal”, de 75 kg, na frente de um Savea embalado, o sujeito será lançado, durante meio segundo, para finalmente cair cinco metros à frente.
Acontece que Savea é só a “cereja do bolo” de uma engrenagem poderosa. Os All Blacks já anotaram 236 pontos e 34 tries – nove deles contra a França – em cinco jogos desta Copa, garantindo o melhor ataque da competição até aqui. Para entender o que a África do Sul terá pela frente na semifinal do próximo sábado, fomos fundo nos pontos-chave desta máquina de fazer tries.
> A tese: A bola fica mais tempo com eles.
Chance de sucesso: Grande.
Os All Blacks ainda não perderam nenhum scrum nesta Copa – e também estão bem nas saídas de jogo e nos laterais. A média de erros com a bola em mãos é baixíssima: apenas 1,2 por jogo. Ou seja, a Nova Zelândia não apenas garante a posse de bola, mesmo quando há disputa, como sabe tratá-la muito bem.
O antídoto: Bons “pescadores” nos rucks (traduzindo: um defensor que busca a bola imediatamente após um atleta ser derrubado), alguma ousadia nas saídas de jogo e um bom estudo das jogadas de laterais.
> A tese: No jogo aberto, eles são tão rápidos e dinâmicos que nem sempre há posições definidas.
Chance de sucesso: Altíssima.
Se fosse preciso apontar a maior virtude dos All Blacks, provavelmente seria essa: os neozelandeses são capazes de cumprir várias funções, não importando o número da camisa. Acha pouco? Bom, tente segurá-los fazendo isso por 80 minutos seguidos. Em outras palavras, todos eles têm técnica, velocidade e visão tática para armar uma jogada ou definir uma bola de ataque.
O antídoto: Comunicação, organização e coordenação defensiva. Além disso, é fundamental comprometer o mínimo possível de jogadores nos lances de contato.
> A tese: Os contra-ataques são fatais.
Chance de sucesso: Considerável.
Tudo que os All Blacks fazem visa desorganizar a defesa adversária. Quando conseguem, pontuam. Mas quando ela já está naturalmente desorganizada, como em um contra-ataque, eles fazem uma rápida leitura de terreno e avançam com força máxima no espaço que se abriu. Some a isso as atuações incríveis neste Mundial dos pontas Julian Savea e Milner-Skudder e do fullback Ben Smith e terá um bom motivo para preocupação.
O antídoto: Caprichar no jogo de chutes táticos, sem espaço para erros. Fazer uma pressão perfeita (e em conjunto) após um chute. E, claro, tentar não perder bolas nos rucks e scrums.
> A tese: A experiência e o banco fazem a diferença.
Chance de sucesso: Razoável.
Cinco “centenários” fazem parte deste elenco All Black: os titulares Richie McCaw (146 jogos), Dan Carter (110) e Ma’a Nonu (101), além dos suplentes Keven Mealamu (130) e Tony Woodcock (118). O banco de reversas também tem atletas que seriam aproveitados como titulares na maioria das seleções do mundo. Dos gigantes e habilidosos Charlie Faumuina e Victor Vito, aos talentosos e decisivos Sonny Bill Williams e Beauden Barrett.
O antídoto: Confiar que a juventude também pode fazer estrago, sobretudo nos duelos dos centros e aberturas. Os sul-africanos Damian de Allende (#12) e Jesse Kriel (#13), de 23 e 21 anos, enfrentarão os All Blacks Ma’a Nonu (#12) e Conrad Smith (#13), com 33 e 34 anos. Já o explosivo abertura dos Boks, Handré Pollard, de 21 anos, tem pela frente o camisa 10 Dan Carter, de 33, maior pontuador da história do rúgbi.
> A tese: A ótima fase e o histórico devem pesar.
Chance de sucesso: Bem provável.
Imagine a força que vestir a camisa preta dos All Blacks te dá. Agora, tente imaginar também a pressão sentida ao colocar a “armadura”. O segredo do treinador Steve Hansen para equilibrar esta balança é mesclar trabalho duro com diversão. Se o ambiente é de estresse, isso se refletirá em campo. Mas se o deixa ser mais relaxado, sabendo dosar a hora de brincar com a hora de “ralar”, o negócio funciona bem, nas palavras do próprio Hansen. Durante a semana, ele também lembrou: “Você tem de se divertir… Qual é o sentido de estar ali em campo, se não estiver desfrutando?”. Suas 45 vitórias e apenas três derrotas e dois empates (90% de aproveitamento) desde que assumiu o posto há quatro anos falam por si só.
O antídoto: Começar o jogo com tudo – pressa não é sinônimo de velocidade –, jogando a pressão e a responsabilidade para o outro lado.
(Treinador Steve Hansen comanda trabalho dos All Blacks antes da semifinal)