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África do Sul revela armas para “missão impossível” contra os All Blacks

UOL Esporte

Por Bruno Romano

Foto: Paul Gilham/Getty Images

Foto: Paul Gilham/Getty Images

(Cena do try salvador de Fourie du Preez que garantiu os Springboks na semifinal)

Tudo está ao lado da Nova Zelândia nesta Copa Mundo. Se procurar nas estatísticas, vai encontrar um All Black no topo (ou bem perto dele). Se perguntar a fãs e especialistas quem passa para a final no próximo sábado, terá sempre a mesma resposta. É impossível negar que os homens de preto são favoritos. Até os sul-africanos concordam. Mas eles têm bons planos para acabar com esta festa antecipada.

Os All Blacks não são apenas a melhor equipe do torneio, como lideram o ranking mundial desde novembro de 2009. Ainda assim, a seleção com mais chance de quebrar essa escrita é a África do Sul. A porcentagem de vitória dos All Blacks nos últimos 90 encontros com os Springboks é de 59 % – contra Austrália, segunda melhor neste quesito, a marca chega a 70%.

Se contarmos só as Copas do Mundo, o duelo direto entre Nova Zelândia e África do Sul marca dois a um para os Boks, já anotando a vitória sul-africana na lendária final de 1995.

Acha pouco? Os 41% de chance são um baita incentivo contra o melhor time do mundo. É claro que são apenas números. A estratégia da campeã mundial de 1995 e 2007 é mais real e, por que não, possível.

Para Bryan Habana, artilheiro em tries dos Springboks nesta Copa – e na história dos Mundiais, ao lado do neozelandês Jonah Lomu – a única forma de vencer é “ser melhor do que o seu melhor”. Segundo Habana: “A disciplina tem de ser incrível, a defesa tem de ser mais dura do que nunca, e o físico e a intensidade têm de atingir outro nível”.

“Acontece que, contra os All Blacks, sua intensidade naturalmente já atinge outro nível”, completa o experiente sul-africano, acostumado a jogar contra os neozelandeses.

Por trás desta guerra de dois gigantes, há várias batalhas individuais. Uma das principais será entre o companheiro de Habana, o outro ponta sul-africano JP Pietersen. Será dele a missão de defender Julian Savea, o “tryman” dos All Blacks.

“Savea é um grande jogador, mas não é justo compará-lo a Jonah Lomu, um cara que realmente mudou o jogo de rúgbi”, diz Pietersen. Quando perguntado sobre sua missão na defesa, o campeão mundial em 2007 com os Boks cravou: “Nós vivemos de desafios”.

Para o pilar sul-africano Jannie du Plessis, outra peça chave no duelo, o segredo está na mente. “Se focarmos nas possibilidades de errar contra eles, vamos acabar errando. E, contra os All Blacks, isso significa tomar cinco tries em 10 minutos”, exagera o pilar. “Em vez de se preocupar com os perigos, temos de pensar onde queremos estar, e fazer de tudo para chegar lá”, defende Jannie.

A forma como os Boks chegaram até esta semifinal ajuda nesta fortaleza mental. Enquanto os All Blacks só foram testados para valer no jogo de abertura contra a Argentina, a África do Sul venceu quatro “finais” depois da derrota para o Japão – Escócia, Samoa e Gales estiveram neste caminho.

Ao contrário da França, que sofreu da Nova Zelândia uma devastadora derrota há três dias (62-13), os Springboks estão mais acostumados a jogar contra os neozelandeses, seja em jogos de seleção ou em seus clubes de Super Rugby.

A partir das semifinais, historicamente, os jogos de Copa também entram em uma nova fase, com placares mais apertados – será que o próprio plano de jogo dos All Blacks não pode ficar um pouco mais pragmático? Em outras palavras, semifinal de Copa não costuma ser uma exibição aberta de um time só.

Se a partida se encaminhar para um duelo mais fechado, conservador e de placar apertado, uma luz pode clarear o caminho do jogo bruto e duro dos Boks. É bem verdade que os japoneses os venceram partindo para o tudo ou nada, mas a situação era outra. Eles foram pegos de surpresa. Não é o caso agora.

A África do Sul que vai enfrentar os All Blacks é o time que venceu os últimos cinco jogos, não o que perdeu o primeiro.

Os treinadores dos Boks também têm um papel importante nisso. O head coach Heineke Meyer garantiu que a jogada do try de Fourie du Preez, que deu a vitória contra Gales nos últimos minutos, foi treinada durante toda a semana.

Já o treinador de defesa John McFarland deixou claro que o trabalho antes da semifinal será acabar com o mal pela raiz. Traduzindo: está treinando um plano para não permitir nenhuma quebra de linha (ou furada de defesa) dos All Blacks. Até por que, quando o fazem, tem o melhor aproveitamento do mundo para anotar tries.

Se os All Blacks conseguirem furar essa estratégia e aplicar um ritmo alucinante no começo, convertendo isso em pontos – e provando de uma vez por todas que são a melhor geração da história do rúgbi –, o time sul-africano não tem o perfil de quem é capaz de correr atrás.

Mas se segurarem o jogo apertado, por outro lado, o sonho dos Boks começa a ficar mais perto da realidade.

Mesmo tendo perdendo dez jogos e vencendo apenas dois contra a Nova Zelândia desde 2010, os Springboks tiveram resultados apertados nos últimos três encontros – com direito a uma vitória.

O tabu de nenhuma seleção ter ganhado Copas seguidas até hoje não é mero acaso. Entre os três gigantes do rúgbi (Nova Zelândia, África do Sul e Austrália), há muita qualidade e história para cravar qualquer resultado antes de o jogo começar.

Os All Blacks têm tudo nas mãos. Mas se há alguém que pode pará-los nesta “missão impossível”, eles atendem pelo nome e pela fama de Springboks.

Foto: Mike Hewitt/Getty Images

Foto: Mike Hewitt/Getty Images

(O sul-africano JP Pietersen terá dupla missão: marcar tries e barrar o artilheiro neozelandês Julian Savea)