Austrália garante supremacia do sul, mas revela suas fraquezas
UOL Esporte
Por Bruno Romano
(Australiano Ben Foley acerta penal decisivo para garantir a vaga na semifinal)
A Austrália sobreviveu ao grupo da morte, venceu cinco jogos seguidos nesta Copa e acaba de se classificar para a semifinal. Mas a seleção considerada até aqui a melhor do torneio está agora no seu momento mais frágil e delicado. Por uma bola, os australianos não perderam para a Escócia (35-34), no duelo mais surpreendente e emocionante deste fim de semana, fechando as quartas-de-final do Mundial 2015.
Acontece que, antes do apito inicial, a Escócia era vista como o time mais fraco das quartas. Era o duelo do último colocado do Six Nations (Escócia) contra o campeão do Rugby Championship (Austrália), os dois maiores torneios de seleções dos hemisférios sul e norte.
Ainda assim, os escoceses fizeram frente a uma seleção bicampeã mundial (1991 e 1999) e só perderam por uma falta cometida nos últimos dois minutos de jogo, que rendeu três pontos por chute e definiu o placar.
A Escócia deixa a Copa, mas salva a honra do rúgbi europeu. Irlanda, Gales e França também foram eliminados nas quartas, assim como a anfitriã Inglaterra – esta última, na fase de grupos. Coube ao time mais fraco (na teoria) mostrar que a diferença de hemisférios talvez não seja tão grande assim.
A Austrália tem méritos por seguir adiante, é verdade, mas escancarou suas fraquezas. Não controlou a batalha dos forwards, ficou perdida com um jogo mais lento imposto pela Escócia e ainda sofreu muito para defender as jogadas mais fechadas – abrindo espaços que pareciam não existir em uma defesa heroica na primeira fase.
O arsenal escocês para quebrar essa muralha foi bem variado. Tiraram o ritmo do jogo no ataque (cadenciando a bola e usando chutes táticos), abusaram de tackles duplos na defesa e dificultaram cada saída de bola australiana, seja com o jogo parado ou em movimento.
Como em uma partida de xadrez, programam e executaram cada movimento, já prevendo a reação da Austrália, e o caminho que ela abriria para o lance seguinte.
Para falar a verdade, a Escócia fez tudo o que é preciso para derrubar um gigante. Faltou apenas um ponto, uma concentração final, um capricho extra para coroar uma aula de estratégia, execução e bravura dentro de um campo de rúgbi.
É natural transformar a história do jogo, mesmo com a derrota, no “feito” escocês. De certa forma, passar adiante era uma obrigação dos australianos.
O plano traçado por Vern Cotter, brilhante treinador neozelandês no comando da Escócia, e a capacidade dos britânicos de segui-lo, com disciplina, técnica e caráter, merece mais aplausos do que a virada de última hora da Austrália. É claro que daqui a uma semana, a história se inverte, com os Wallabies em campo e a Escócia assistindo o Mundial.
Mas se a vitória no rúgbi está em fazer o seu melhor, jogar no seu limite e se superar não importando o tamanho da encrenca, a lição que os escoceses passam com esse jogo é muito mais valiosa do que a dos australianos.
Os Wallabies seguem seu caminho invicto, é verdade. Mas deixam escapar o posto de melhor seleção até aqui – esta “honra” está agora nas mãos da Nova Zelândia. Tudo tem seu lado e seu lado ruim.
Não há dúvida de que a exibição da Escócia vai fortalecer ainda mais a mente da Argentina, adversária da Austrália na semifinal. Por outro lado, um sinal de alerta dos Wallabies foi acionado. E ele pode ter aparecido em boa hora.
(Foi por pouco: escocês Mark Bennet anota try no fim do duelo contra os Wallabies)