Com rúgbi explosivo, Argentina tem chance de ouro contra abalada Irlanda
UOL Esporte
Por Bruno Romano
(No último encontro em mundiais, em 2007, os Pumas eliminaram os irlandeses na fase de grupos)
Talvez você não tenha ouvido falar deles, mas os “Pumas de Bronce” marcaram o começo de uma nova era no rúgbi argentino. Sim, nossos “hermanos” são bons com a bola oval e venceram duas vezes a poderosa França no Mundial de 2007. Os feitos surpreenderam o mundo do rúgbi, e os argentinos acabaram levando para casa uma inédita medalha de bronze.
Foi uma trajetória histórica dos Pumas, que começou com a eliminação da Irlanda (30-15) na fase de grupos daquela Copa. Será a mesma adversária deste domingo, agora pelo Mundial 2015, no Millenium Stadium de Cardiff.
De 2007 para cá, o negócio ficou profissional. A Argentina montou centros de treinamento pelo país, exportou como nunca jogadores para ligas estrangeiras e atingiu seu mais alto nível competitivo no exterior – tudo isso mantendo o rúgbi amador de clubes bem forte dentro do país.
Com arquitetura do ex-Puma Agustín Pichot, camisa 9 e capitão daquela seleção de 2007 (e agora cartola), os Pumas passaram a jogar anualmente, desde 2012, o The Rugby Championship, encarando Nova Zelândia, Austrália e África do Sul. A partir de 2016, também terão uma franquia no Super Rugby, campeonato dos grandes clubes do hemisfério sul.
Pichot tem ido aos jogos desta Copa, e é visto constantemente no vestiário dos Pumas. De terno e gravata, ele aproveitou bem o embalo das vitórias de sua geração e levou os Pumas mais longe. Agora, o ciclo se reverte. É a vez dos novos Pumas fazerem história, de novo com as chuteiras nos pés.
(Treinador Daniel Hourcade prepara a Argentina antes do duelo das quartas-de-final)
Irlanda x Argentina
(Millenium Stadium, País de Gales; 18/10, 9h)
No dia seguinte da vitória contra a França, que classificou a Irlanda em primeiro lugar do grupo “D”, o elenco saiu para relaxar e jogar golfe. Não está errado: um tempo de descontração sempre ajuda. Os próprios jogadores ingleses, agora eliminados do Mundial, reclamaram da falta de tempo livre fora da concentração.
Mas as tacadas irlandesas, por outro lado, revelam uma urgência em esfriar a cabeça. Acontece que triunfo contra a França custou muito caro. O capitão Paul O’Connell, o asa Peter O’Mahony (lesionados) e o outro asa Sean O’Brien (suspenso por agressão) são desfalques certos.
Ainda pode piorar. O camisa 10 Jonathan Sexton só vai treinar na sexta-feira, quando será revelado o mistério da sua escalação. Um dos treinadores irlandeses, Greg Feek, insinuou que estão eles estão dispostos a arriscar, mesmo sem Sexton estar 100 %.
É em cima deste abalo (físico e psicológico) que a Argentina quer fazer valer suas fortalezas atuais. Leia-se: o melhor ataque, com 179 pontos e 22 tries, e a liderança nas estatísticas de furadas de defesa (46) e offloads (50), os passes feitos quando o jogador está sendo derrubado – a Irlanda é apenas a 7ª e a 19ª nesses últimos dois quesitos.
Traduzindo: os Pumas jogam mais soltos, abusando da criatividade e da continuidade no ataque. Ainda que a Irlanda tenha se mostrado extremamente eficiente e decisiva – menos contra a Itália –, sobretudo no principal jogo até aqui, diante da França.
Só que a Argentina, hoje, está um nível acima da França.
Recentemente, os Pumas venceram a África do Sul em território africano – feito que a Irlanda nunca concretizou. E os argentinos ainda atuaram 67 minutos (dos 80) de igual para igual com a Nova Zelândia neste Mundial.
O cenário mostra uma chance perfeita para os Pumas avançarem. Mas a tradição irlandesa indica que será equilibrado. Na história, são 10 vitórias dos europeus (incluindo os últimos cinco jogos) e outras cinco argentinas, três delas em 2007, o ano da vitória no Mundial. De lá para cá só deu Irlanda.
Mesmo assim, até o ídolo irlandês Brian O’Driscoll, aposentado recentemente com 133 jogos pela seleção, mostrou receio contra os Pumas. Segundo BOD, como Brian é conhecido rúgbi mundial, os argentinos são atrevidos, se divertem jogando e estão sempre unidos, o que se reflete em campo. Enquanto alguns torcedores irlandeses já falam sobre semifinal, BOD vê os Pumas como adversários muito perigosos.
Líder deste time “atrevido, divertido e unido”, o capitão argentino Agustín Creevy disse durante essa semana que sonhou estar levantando a taça da Copa. Creevy está confiante a ponto de afirmar que não há limite para seu time. O desempenho dos Pumas neste domingo vai mostrar o quão perto seu sonho está da realidade.
(Lesionado, o camisa 10 Jonny Sexton pode ir para o sacrifício contra os Pumas)