O Blog do Rúgbi

Tudo do mata-mata: Gales, Springboks e a “freguesia” do norte contra o sul

UOL Esporte

A única seleção que conseguiu quebrar a supremacia do hemisfério sul no rúgbi mundial foi a Inglaterra, na Copa de 2003. Nos outros seis mundiais, as criaturas (ex-colônias) se acostumaram a eliminar os criadores (britânicos) – do hemisfério norte, aliás, apenas ingleses e franceses chegaram a finais desde o primeiro Mundial em 1987.

Desta vez, mesmo jogando em casa, restou aos ingleses assistirem aos jogos do pub. Enquanto isso, País de Gales, Irlanda, Escócia e França seguem na briga nas quartas-de-final.

Escoceses e franceses vão encarar duas seleções que parecem imbatíveis a esta altura do torneio: Austrália e Nova Zelândia. Já a Irlanda, apesar da ótima forma, vai jogar sem quatro dos seus principais titulares contra a motivada e bem armada Argentina.

É por isso que, entre os quatro representantes do norte, Gales têm a melhor chance nesta batalha histórica – na teoria, claro.

África do Sul x Gales

(Twickenham, Inglaterra; 17/10, 12h)

Nenhuma das seleções que chegaram até as quartas-de-final foram tão testadas como Gales e África do Sul. Pelo que passaram até aqui, já são sinônimos de garra, coragem e forte caráter. Baseadas nisso, sobreviveram a tempestades, e foram capazes de mostrar momentos de ótimo rúgbi.

Os galeses passaram pelo grupo da morte, deixando a Inglaterra de fora e jogando de igual para igual com os bicampeões mundiais australianos.

Mais do que isso: superaram a ausência de dez importantes jogadores, somando os lesionados antes e durante o Mundial. Só por terem chegado até aqui, já são vencedores.

Já os sul-africanos reverteram a maior derrota da história do rúgbi do país (34-32 para o Japão, na estreia) para se classificar em primeiro do seu grupo. No segundo jogo, ainda perderam seu capitão Jean de Villiers até o fim do torneio.

Resumindo, deram um jeito de transformar as tragédias em um combustível poderoso, que inflamou a seleção mais bruta do rúgbi mundial.

Os Springboks estão jogando o “rúgbi desesperado”, nas palavras do próprio sul-africano Fourie du Preez. Traduzindo: depois do revés na estreia, o time põe tudo o que tem na próxima bola. Na defesa e no ataque.

Nas últimas quatro horas em campo neste Mundial, fizeram 144 pontos e só tomaram um try.

Para os Boks, já não importa quem vem pela frente. O treinador Heineke Meyer chegou até a brincar que pode vir qualquer um, menos o Japão… Por trás da piada, ele fala sério. Seu time já mostrou que, passada a tormenta, é hora de tudo ou nada.

O País de Gales sabe bem o que os espera. A valentia do time e o incrível trabalho em equipe os trouxeram até aqui. Agora, vão precisar de um pouco mais.

O segredo pode estar no comando do neozelandês Warren Gatland, que já se provou um dos maiores treinadores desta era. Suas estratégias e decisões são levadas a sério pela seleção de Gales. Elas têm poder de dobrar adversários. Não importa o tamanho.

É mais: os jogadores galeses não desistem. Não custa lembrar que, no duelo decisivo contra a Inglaterra, eles estavam 10 pontos atrás, na metade do segundo tempo.

O grupo é forte, sem dúvida. Mas é a perícia do camisa 10 Dan Biggar que tem garantido a maior parte dos pontos decisivos. Por trás da sua rotina esquisita de chutes – já comparada a Rafael Nadal e “viralizada” na internet com o hit “Macarena” de trilha sonora –, Biggar é um oásis de calma em meio a tanta pancadaria.

Ele tem sido decisivo na defesa e no ataque. O problema é depender somente de seus chutes para pontuar. Contra a Austrália, que chegou a ficar com 13 jogadores em campo (por dois cartões amarelos), Gales não conseguiu fazer nenhum try.

Ainda assim, há força suficiente para bater um rival de peso como os Springboks. No último encontro, aliás, foi exatamente isso o que aconteceu. O único problema é que eles perderam as 16 partidas anteriores…

O galês George North volta para a ponta, e é aposta de tries contra a África do Sul. Créditos: Getty Images

O galês George North volta para a ponta, e é aposta de tries contra a África do Sul. Créditos: Getty Images

 

NOTÍCIAS DO FRONT

> O palácio real de Buckingham, em Londres, abriu suas portas na última segunda-feira para receber treinadores e jogadores de destaque deste Mundial.

Em clima de fair-play, o príncipe Harry, fanático torcedor do rúgbi inglês, conversou e deu risada com os atletas do País de Gales, seleção que ajudou a eliminar a Inglaterra. A rainha Elizabeth II também fez parte da cerimônia.

> Definidos os árbitros das quartas-de-final: o inglês Wayne Barnes apita África do Sul e Gales, enquanto o galês Nigel Owens comanda Nova Zelândia e França, no sábado.

Já no domingo, é a vez do francês Jérôme Garcès conduzir Irlanda e Argentina, e do sul-africano Craig Joubert apitar Austrália contra Escócia.

> O irlandês Paul O’Connell está fora do Mundial. Mais do que isso, termina aqui sua carreira pela seleção. A contusão no joelho, contra a França no último domingo, vai exigir cirurgia.

O’Connell se despede com 108 atuações pela Irlanda, 17 partidas em quatro mundiais e 28 jogos como capitão. Depois de defender o Munster, da Irlanda, durante toda a carreira, ele voltará a campo (assim que se recuperar) pelo Toulon, da França.

Adeus de um gigante: o irlandês Paul O’Connell, em foco, se despede da seleção e do Mundial. Créditos: Getty Images

Adeus de um gigante: o irlandês Paul O’Connell, em foco, se despede da seleção e do Mundial. Créditos: Getty Images