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Tragédia inglesa acende clima de ‘pânico’ no Mundial de rúgbi

UOL Esporte

Créditos: Xinhua/Han Yan

Créditos: Xinhua/Han Yan

Em dia de vitórias arrasadoras (e totalmente previsíveis) no Mundial 2015, o assunto na Inglaterra ainda é a derrota dos anfitriões para o País de Gales no último sábado em Londres. Nem os espetáculos deste domingo, com a Austrália massacrando o Uruguai (65-3), a Escócia superando os Estados Unidos (39-16) e a Irlanda dominando a Romênia (44-16) conseguiram tirar a atenção do drama inglês em Twickenham, estádio conhecido como o templo do rúgbi.

As reações dos ingleses à derrota misturam pessimismo, cobranças e desconfiança. A imprensa britânica chama o resultado (28-25) de atordoante. E alguns artigos já analisam até como a Inglaterra pode ser afetada economicamente caso saia precocemente do Mundial. O cenário leva em conta prejuízos em pub’s, restaurantes e lojas ligadas ao esporte.

Para a lenda do rúgbi galês, Gareth Edwards, os ingleses sentiram pressão e pânico de perder. O ex-camisa 9 de Gales ainda classificou a vitória da sua seleção como uma das maiores de todos os tempos.

Chris Robshaw, capitão da Inglaterra, disse que é a hora de testar o caráter e as reações de cada um em seu time. E que, no momento, só se sente dor. O treinador Stuart Lancaster se limitou a dar parabéns a Gales, e confirmou o que todos já sabiam: seu time ficou devastado.

Em outra frente, abre-se uma discussão sem fim sobre uma escolha de Robshaw no fim do jogo. Pelas regras do rúgbi, um time pode escolher em caso de penalidade a seu favor: arriscar um chute de três pontos ou ganhar terreno (também com um chute, mas para a lateral) para tentar fazer um try, que vale cinco. A primeira opção poderia garantir o empate. Mas o capitão optou pela segunda. Em seguida, os galeses conseguiram segurar o avanço da Inglaterra, que acabou sem nada.

O capitão inglês assumiu a responsabilidade pela decisão, como é comum no rúgbi. E o treinador Stuart Lancaster, depois de comentar que uma determinação como essa precisa acabar em try, afirmou que pouco importa o que ele pensa sobre isso. Para ele, a decisão é de quem está em campo e ponto final. Segundo Lancaster, sair de Twickenham com um empate também o teria desapontado como treinador.

A discussão sobre a decisão do capitão inglês não tem fim, mas o fato é que a Inglaterra não perdeu o jogo por isso. De um lado, ela pecou em ser indisciplinada. Do outro, Gales mostrou um espírito de equipe e uma garra acima da média. E merecem aplausos por isso. Nisso, até a imprensa inglesa concorda.

O problema é que nunca uma seleção anfitriã ficou de fora das quartas-de-final de um Mundial – imagine se acontecer com os inventores do esporte. A chance é real. Para a Inglaterra não inaugurar este time vai precisar voltar a Twickenham, no próximo sábado, e sair de lá com uma vitória sobre a Austrália. Se uma semana será tempo suficiente para cicatrizar uma ferida deste tamanho, nem a imprensa britânica, nem as lendas do rúgbi e, pior, talvez nem o elenco inglês sabe.

ENQUANTO ISSO…

A Austrália anotou hoje o melhor resultado do Mundial até aqui: 65-3 contra o Uruguai. Tudo bem, os australianos tiveram um caminho mais fácil até o momento. Venceram Fiji na estreia (assim como fez a Inglaterra) e passearam contra o Uruguai (assim como deve fazer a Inglaterra).

As chances de sobrevivência no grupo da morte, no entanto, ainda dependem da atuação de Gales contra Fiji e Austrália. Ou seja, a situação está feia para os ingleses, mas mesmo se perderem para a Austrália tem alguma chance. Para não contar com ajuda dos vizinhos galeses, vão ter mesmo de inventar um jeito de vencer os bicampeões mundiais australianos.

ENQUANTO ISSO (2)…

Se as coisas não andam bem para a Inglaterra, a Irlanda e a Escócia têm aproveitado bem a proximidade de casa. E elas vem transformando essa oportunidade em resultado: já somam duas vitórias por ponto bônus no Mundial.

Neste domingo, a Escócia cravou 39-16 contra o Estados Unidos, e a Irlanda fechou a rodada do fim de semana com 44-16 sobre a Romênia. De um lado, chama atenção a criatividade da seleção escocesa no ataque. Aliada a já conhecida organização e disciplina da Escócia, pode formar um arsenal perigo. Do outro, se sobressai a velocidade, a inteligência e a capacidade de finalização dos irlandeses.

É um pouco cedo para cravar os dois como candidatos ao título – sendo que a Irlanda aparece um degrau acima dos escoceses. Mas já é mais do que convincente para apostar nessas seleções se garantindo nas quartas-de-final, e dando muito trabalho na fase de mata-mata.

DICA DO DIA: Se tiver um compromisso, desmarque. Austrália x Inglaterra, no próximo sábado (16h), vai ser mais do que um duelo de gigantes do rúgbi. O jogo pode definir o grupo da morte – e os rumos do Mundial.

O CARA: Dan Biggar. Em um esporte marcado pelo coletivo, atuações como a do abertura Gales em um Mundial ficam para a história. Depoimentos grandiosos também. Depois de ser eleito o homem do jogo contra a Inglaterra, graças a sete chutes certeiros, Biggar soltou: “É incrível vencer aqui na Inglaterra, mesmo sem ninguém nos dando crédito, e com ‘milhões’ de contundidos. Mas esse jogo não é sobre mim. Não sinto que é justo ser premiado como homem do jogo, pois essa foi uma vitória de equipe”. Ninguém foi mais decisivo e honesto do que Biggar neste fim de semana de Mundial.

A IMAGEM: Florin Surugiu, jogador da Romênia, pede a namorada em casamento após duelo contra a Irlanda pelo grupo “D” do Mundial 2015.

A FRASE: “Eu tinha certeza de que eles estavam em pânico. Naquela hora, a gente preferia jogar e arriscar um try do que chutar e empatar o jogo. Eu não queria decepcionar meu time”, Chris Robshaw, capitão da Inglaterra tentando explicar a decisão de arriscar um try (5 pontos) em vez de um chute de penalidade (3 pontos), no fim do duelo contra Gales.

LONDON EYE: Parece que não era mesmo para o capitão sul-africano Jean de Villiers jogar este Mundial. Depois de comandar a ressureição dos Springboks nesta Copa contra Samoa, no último sábado (sendo eleito “o cara” neste blog), Villiers recebeu o resultado de um exame que confirmou uma fratura na mandíbula.

O lance aconteceu aos 72 minutos do duelo contra os samoanos – e quase passou despercebido. A despedida precoce do líder sul-africano é triste. Villiers tinha feito o impossível ao se recuperar de uma gravíssima lesão no joelho há alguns meses. Vai fazer muita falta pros Boks e para os fãs de bom rúgbi.

Por Bruno Romano