Invasão da torcida e tática de risco embalam Argentina fatal no Mundial
UOL Esporte
Por Bruno Romano
Se na derrota contra a Nova Zelândia (26-16) os Pumas argentinos mostraram suas garras, no triunfo desta sexta-feira em cima da Geórgia (54-09) eles deixaram claro que podem ser fatais. O placar do segundo tempo mostra bem isso: 40 a 0, em cima de uma seleção de nível inferior, é verdade, mas reconhecida justamente pela sua forte defesa.
Os argentinos lembraram hoje os “Pumas de Bronce” de 2007, a geração que terminou a Copa daquele ano em terceiro lugar, melhor colocação da história do país. Não custa lembrar que os Pumas de 2007 venceram naquele torneio a tradicional França por duas vezes no mesmo Mundial (jogando na própria França).
O que mais impressiona no resultado contra a Geórgia – o terceiro melhor do Mundial até aqui – é o fato de terem vencido sobre muita pressão. Uma derrota poderia significar um adeus precoce do Mundial.
Também chama atenção o caminho escolhido para a vitória: um jogo aberto, repleto de passes e viradas de direção, fugindo do confronto mais perto das formações. Não que falte qualidade argentina para isso. Acontece que este estilo exige bastante empenho físico e coordenação tática e, muitas vezes, acaba expondo o time para contra ataques.
Esta forma de jogar dos Pumas deixa claro o plano argentino na Inglaterra. É exatamente assim que atuam seleções de ponta, como os All Blacks neozelandeses e os Wallabies australianos. E é neste nível que os Pumas querem chegar (e até superar) neste Mundial.
A vitória com ponto bônus, com direito a sete tries (três a mais do necessário para somar cinco pontos na tabela), vai encher os Pumas de confiança. Um grande combustível para o time, mas também um incentivo traiçoeiro em início de Mundial.
O último toque em relação ao jogo de hoje – até por que a exibição dos Pumas fala por si só – é sobre a torcida. Foi assim contra a Nova Zelândia e se repetiu hoje contra a Geórgia: os argentinos invadiram a Inglaterra e têm deixado o clima mais vibrante nos estádios.
Vale lembrar que, por aqui no Brasil, muita gente do rúgbi – acreditem, fanáticos do futebol – torce pelos Pumas. Não é unanimidade, claro, mas todos concordam que os argentinos são sinônimos de raça, doação e jogo coletivo no rúgbi, características de quem vai longe em grandes torneios.
Se os Pumas aguentarem a batalha física desta Copa e se unirem essa paixão de dentro e de fora do gramado com a qualidade técnica de hoje, podem fazer estrago nas fases de mata-mata.
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O CARA: Nicolás Sánchez. Por mais que Juan Imhoff (#11) e Santiago Cordeiro (#14) tenham feito dois tries cada um (ótimo desempenho, dentro de suas missões de finalizadores, jogando nas pontas) foi o camisa 10 Nico “Cachorro” Sánchez que deve ter deixado mais tranquilo o treinador Daniel Hourcade.
Nico sofreu muito na estreia contra os All Blacks, quando não fez um bom jogo. Desta vez, acertou penais e drops (chutes que valem três pontos no rúgbi) e, no momento mais difícil da partida, com apenas 11 a 9 para os Pumas, ele quebrou a linha da Geórgia com dribles velozes e deu um recado: esse jogo é nosso. O sucesso dos Pumas na Copa depende de bons dias como este de seu camisa 10.
A IMAGEM: O capitão argentino Agustin Creevy (#2) comemora a vitória com fãs em Gloucester, na Inglaterra.
A FRASE: “Confiamos nas nossas armas e saímos daqui hoje muito felizes”, Tomás Cubelli, scrumhalf (#9) argentino, que anotou um try e garantiu forte ritmo para os Pumas.
LONDON EYE: Um dos líderes dos Pumas, o back Juan Martín Hernández deixou o jogo no fim do primeiro tempo. Segundo a comissão técnica, foi uma precaução por um incômodo muscular na perna direita. Hábil, inteligente e decisivo, Hernández deve fazer muita falta se não se recuperar a tempo.
Em jogos contra adversários mais fortes, a presença de Hernández em campo pode fazer a diferença. Mais do que suas qualidades individuais, o “porteño” tem como grande qualidade a capacidade de passar confiança para o time, armando jogadas para os Pumas renderem ainda mais.