Muito além do Haka: os segredos da Nova Zelândia no rúgbi
UOL Esporte
Por Bruno Romano
Dia de All Blacks em campo é sagrado no mundo do rúgbi. É claro que australianos, sul-africanos, franceses e britânicos (fortes rivais e loucos para tirar o título mundial da mão da Nova Zelândia) não vão concordar muito com isso. Mas uma coisa é unanimidade: quando esses caras se juntam, é uma boa chance de assistir a uma aula ao vivo. E aprender um pouco mais sobre o rúgbi.
Desta vez sobrou para a Namíbia, seleção mais fraca deste Mundial 2015 – pelo menos é o que mostra o 20º lugar no ranking da World Rugby. O jogo único desta quinta-feira, que acabou 58-14 para os homens de preto, é uma boa chance de explicar por que os All Blacks são tão dominantes.
DO QUE É FEITO UM ALL BLACK
Falar que o rúgbi é uma religião na Nova Zelândia dá uma ideia da paixão pelo esporte, mas não explica exatamente o que acontece por ali. Na prática, a bola oval está inserida na rotina e na cultura do país. Ou seja, quem nasce nas ilhas norte ou sul, vai ter um irmão, um pai ou pelo menos um tio – e logo uma dúzia de amigos – apaixonados por rúgbi. Se o garoto levar jeito para a coisa, já vai ser observado por algum treinador desde os primeiros anos de vida.
Bom, até aí, este cenário também se repete em outras potências mundiais. O primeiro diferencial All Black, portanto, está na competição interna. Com tanto alucinado por rúgbi junto (em um país de quatro milhões e meio de habitantes, sem grande tradição em outras modalidades), imagine que a briga pela posição já começa dentro de casa ou da sala de aula das escolas.
Fazer parte de um first XV (nome dado aos 15 titulares de uma equipe escolar) é motivo de honra e orgulho. Do colégio em diante, a concorrência só aumenta para entrar: 1. No time da cidade; 2. Na equipe principal da província; 3. Na franquia profissional que joga o Super Rugby. Quem passa por essa peneira, tem rúgbi na veia para ser campeão do mundo.
A mistura de raízes britânicas e polinésias, também trouxe um diferencial. A aura vencedora dos All Blacks foi construída desde a época amadora do rúgbi, na base da união de fortes homens do campo com maoris de valentia e aptidão física acima da média. Aos poucos, foram criando rituais, tradições e símbolos em comum, fortalecendo ainda mais a magia dos All Blacks. Vestir a camisa negra ainda é sonho da maioria das crianças neozelandesas.
Para se manter no topo, eles se renovam diariamente. Formam bons treinadores, investem na base e levam muito a sério (sem perder a alegria) a responsabilidade de serem os melhores do planeta. É por isso que um jogo com os All Blacks costuma mostrar o que há de mais atual no esporte. É por isso que os homens de preto venceram bem hoje, e mantiveram a escrita de apenas três derrotas (em 49 jogos) nos últimos quatro anos.
A DICA DO DIA: Anote na agenda os próximos jogos imperdíveis deste Mundial 2015: Argentina x Geórgia (sexta-feira, 12h45); África do Sul x Samoa (sábado, 12h45) e Inglaterra x Gales (sábado, 16h).
O CARA: Sonny Bill Williams. No meio de gigantes neozelandeses, SBW consegue se destacar. Depois de entrar para revolver o jogo contra a Argentina na estreia, o centro dos All Blacks ditou o ritmo do time e arquitetou vários tries contra a Namíbia. Nada mal para um “reserva de luxo”, que também é peso-pesado no boxe, com cartel invicto de sete vitórias (três delas por nocaute).
A IMAGEM: ELES CONSEGUIRAM! Para uma seleção como a Namíbia (20ª do ranking mundial), fazer um try contra os All Blacks é o mesmo que vencer uma Copa. Parabéns para os africanos e para o primeiro centro Johan Deysel, autor da façanha.
A FRASE: “Acreditamos na nossa equipe e sabemos que nosso maior inimigo somos nós mesmos. Quando fazemos o que sabemos, somos capazes de vencer qualquer time do mundo”, Yannick Nyanga, jogador da França comentando a vitória contra a Romênia na última quarta-feira e falando sobre as críticas por (mesmo ganhando ponto bônus) não terem jogado melhor.
LONDON EYE: A pressão por uma vitória pode estar preocupando os Pumas (e alguns torcedores da Argentina). Mas o fato é que a melhor seleção de rúgbi da América do Sul tem tudo para confirmar o bom momento contra a forte Geórgia no jogo único desta sexta-feira – nos últimos confrontos diretos, os argentinos venceram com certa folga. Só tem um problema: se vacilarem, estão praticamente fora da Copa.
Isso por que a Geórgia já bateu Tonga na estreia (e deve superar a Namíbia e perder para os All Blacks, assim como os Pumas). Como só há duas vagas no grupo, entre cinco seleções, o duelo de amanhã deve definir quem vai para as quartas-de-final.