A vez dos gigantes: Austrália, França e Escócia detonam as ‘zebras’
UOL Esporte
Por Bruno Romano
Uma das vantagens do rúgbi, principalmente para quem está perdendo um jogo (ou para quem está assistindo), é que não há espaço para a famosa “cera”. Se um time resolver gastar tempo, enrolar ou simplesmente fazer corpo mole, vai pagar muito caro por isso.
Por aqui, a gente segue as mesmas regras do jogo – e, aos poucos vai traduzindo o esporte para quem está chegando agora. Então, sem ceras, vamos direto às análises e destaques do dia:
COMO VENCER UM SAMURAI
O raio japonês não caiu duas vezes na Inglaterra. A vizinha Escócia soube barrar a sensação do Mundial até aqui com muita paciência, precisão e inteligência – atributos dos antigos guerreiros japoneses.
Esta seleção do Japão, na verdade, se parece muito mais com as potências do hemisfério sul (ousadas, velozes e valentes) do que com os gigantes do norte (táticos, brutos e frios). Acontece que, quando se joga no limite contra uma seleção tradicional como a Escócia, há sempre um enorme risco de tudo dar errado.
A vitória da Escócia por 45 a 10 na sua estreia deixou claro que os britânicos vão ser páreo duro para qualquer um – e garantiu uma disputa no grupo “B” ainda mais emocionante, com Samoa e África do Sul na briga.
Do lado japonês, a atuação do artilheiro Ayumi Goromaru ajuda a traduzir a partida. O camisa 15 fez sua tradicional pose para chutar “à la Jonny Wilkinson” (inglês campeão mundial em 2003), mas errou a pontaria várias vezes. No geral, foi essa a toada do time: uma postura aguerrida e vencedora, mas que falhou na hora de pontuar. A Escócia sentiu isso, ganhou confiança, e foi para cima com tudo para definir o jogo.
CANGURUS TAMBÉM SABEM VOAR
A Austrália superou Fiji (28-13) em um jogo duro, intenso e pegado. Mas sem surpresas. O mais forte venceu com segurança e propriedade, depois dos minutos iniciais de muita tensão da estreia. Foi a primeira vez nesta Copa, no entanto, que uma partida quase desandou. Por sorte, a faísca da pancadaria logo se apagou.
Os ânimos exaltados têm a ver com o jeito dos dois times jogarem. Austrália e Fiji são sinônimos de potência e brio. E também tem muito a ver com o recado que os australianos quiseram passar para a Inglaterra, sua principal adversária no grupo (antes, pegam o Uruguai): estamos aqui para ganhar, e vamos fazer de tudo para isso.
EM BANHO-MARIA
Até a metade do primeiro tempo, o jogo entre França e Romênia foi equilibrado. Depois disso, os franceses foram se soltando para anotar 38 a 11. Mesmo assim, os jogadores não deixaram de tomar a bronca de suas vidas do treinador (e ex-jogador da seleção francesa) Phillippe Saint-André, durante o intervalo.
Isso por que a atual vice-campeã mundial fez o mínimo esforço possível para garantir uma vitória. Apenas com 11 minutos para o jogo acabar, cravou seu quarto try e finalmente garantiu o ponto bônus ofensivo.
Vale lembrar que, quem vacilar neste grupo, se classificando em segundo lugar, deve pegar os All Blacks nas quartas-de-final. A decisão vai ficar mesmo para o duelo França e Irlanda, só daqui a 18 dias.
DICA DO DIA: Quinta-feira é dia de Haka no Mundial. Todo mundo gosta de ver a tradição tribal neozelandesa, mas já parou para pensar o que ela significa? A tradução do grito mais usado, o Ka Mate, é mais ou menos assim: “[O líder do time chama:] Bata as mãos contra as coxas, estufe o peito, dobre os joelhos, siga com o quadril, bata os pés o mais forte que conseguir. [Todos cantam juntos:] É a morte, é a morte! É a vida! É a morte, é a morte! É a vida! Este é o homem peludo! Que fez o sol brilhar novamente! Suba a escada! Suba até o topo! O sol brilha!”. Entendeu? Não importa… O que vale é o que eles fazem depois da dança dentro de campo.
O CARA: David Pocock. Jogando de oitavo (posição mais polivalente do rúgbi), Pocock liderou a Austrália na vitória contra Fiji, marcando dois tries e conduzindo o jogo de base, chave do sucesso na partida. O curioso é que Pocock, de 27 anos, nasceu no Zimbábue, mas vive na Austrália desde 2002.
A IMAGEM: O troféu Webb Ellis deu as caras hoje no duelo entre Austrália e Fiji no Millennium Stadium, em Cardiff (País de Gales). O nome da taça homenageia William Webb Ellis, o estudante do colégio de Rugby, na Inglaterra, que teria corrido com a bola nas mãos durante um jogo de futebol, em 1823, dando origem ao rúgbi.
A FRASE: “Tivemos a sorte de assistir o Japão antes de enfrentá-los – até por que a África do Sul não devia estar esperando um time tão agressivo. No fim, isso mais nos motivou do que nos trouxe receio ou medo. Acho que deu pra ver bem essa reação no nosso time na performance de hoje contra eles”, Greig Laidlaw, capitão da Escócia, eleito “homem do jogo” no triunfo contra o Japão.
LONDON EYE: A indisciplina pode custar muito caro no rúgbi. O argentino Mariano Galarza foi punido com nove semanas de exclusão por um lance de agressão no rosto de um adversário (o neozelandês Brodie Retallick, eleito melhor jogador do mundo em 2014).
Os Pumas argentinos estão no mesmo grupo “C” da Nova Zelândia, que faz o único jogo da rodada de quinta-feira contra a Namíbia, seleção com menor ranking do Mundial, em 20º lugar.