O Blog do Rúgbi

All Blacks sobrevivem ao primeiro duelo de gigantes do Mundial

UOL Esporte

Se o Japão acendeu a faísca ao vencer a África do Sul, a Argentina tacou fogo pesado nesta Copa do Mundo de Rúgbi 2015. Os Pumas argentinos lideraram grande parte do jogo de estreia contra a Nova Zelândia e, por pouco, não bateram os atuais campeões mundiais – seus algozes nas quartas-de-final do Mundial de 2011. Por trás da derrota argentina (26-16), fica evidente a vitória do esporte.

A Copa mal começou e seu maior objetivo parece ter sido atingido: popularizar o rúgbi. Não era isso que o modalidade precisava? Ter mais do que apenas três ou quatro grandes potências deixa claro que a bola oval já está mudando a vida de muito mais gente pelo planeta. E, nesta hora, temos de agradecer também aos argentinos.

Para alegria de quem esperava (ansioso) pelo melhor jogo da primeira rodada, a Argentina foi para o tudo ou nada. Se tem uma coisa que a vitória do Japão sobre a África do Sul ensinou nesta Copa é que a coragem acaba sendo um dos principais trunfos de um time de rúgbi – e que, por traz do risco iminente de se abrir contra um gigante, pode estar uma grande recompensa. Não foi desta vez para os Pumas, mas pelo que mostraram, ainda podem fazer história neste Mundial.

A Nova Zelândia manteve-se invicta contra a Argentina (após 22 confrontos diretos) e ainda guardou a escrita de nunca ter sido derrotada em uma fase de grupos de Mundial – essa é a oitava edição do torneio. Desde que foi campeã do mundo em 2011, os All Blacks só perderam três partidas. Detalhe: entraram em campo 48 vezes neste período, já contando este duelo contra os Pumas.

Só pelos talentos individuais, a Nova Zelândia já seria favorita à Copa do Mundo. A questão é que os homens de preto dão aula de jogo em equipe. Ainda mais quando a pressão aumenta. Mesmo em um dia pouco inspirado, ninguém no planeta tem mais frieza e capacidade técnica de reverter um jogo – é assim há mais de 100 anos.

A dança de guerra antes de cada partida, o respeito ao maori mais velho (que puxa esta dança, chamada de Haka) e todas as chuteiras pretas usadas na partida de hoje não são meros detalhes. São rituais que reforçam e renovam a tradição e a força da Nova Zelândia cada vez que entra em campo.

Para os neozelandeses, o desafio da estreia já passou. No sufoco, mas passou. Os All Blacks tem agora pela frente mais dois tabus. 1. Jamais uma seleção venceu duas Copas seguidas. 2. A Nova Zelândia nunca venceu uma Copa do Mundo fora de sua casa. Ninguém duvida dos All Blacks. Só que quebrar essas barreiras vai ser mais difícil do que parecia.

Crédito: Shaun Botterill/Getty Images

Crédito: Shaun Botterill/Getty Images

BRAVO, URUGUAI

O que  acontece quando o quinto melhor time do mundo recebe o 19o do ranking em seu estádio lotado? Na teoria, um passeio. Na prática, os País de Gales venceu bem, mas teve de suar muito a camisa para passar pelo Uruguai com ponto bônus (quando um time faz quatro ou mais tries).

O resultado (54-09) final mostra que Gales fez a sua parte, repondo as peças de tantos desfalques de última hora – entre elas o lesionado Leigh Halfpenny, fullback artilheiro da seleção. Mesmo assim, o jogo não serviu como termômetro para medir a verdadeira temperatura que essa seleção pode atingir em campo.

A única coisa que o duelo deixou bem claro foi a raça de uma seleção repleta de atletas amadores. Os uruguaios estão em um nível bem abaixo de Gales. Ainda assim, deram seu melhor (e mais um pouco). É isso o que importa no rúgbi. E na vida.

Crédito: Michael Steele/Getty Images

Crédito: Michael Steele/Getty Images

MAGIA SAMOANA

Difícil entender como uma pequena ilha isolada no oceano Pacífico segue formando tantos craques de rúgbi. É mais fácil apenas assistir (e curtir) o puro rúgbi samoano. Traduzindo: um jogo com continuidade, apoio, força física e muita alegria de estar em campo.

Sempre avançando, com e sem a bola, os samoanos mostraram que é possível ser ousado mantendo uma organização tática. E, assim, venceram os Estados Unidos (25-16) e jogaram ainda mais pressão para cima da África do Sul no mesmo grupo.

Se todos os samoanos espalhados por outras seleções do mundo se unissem em um único time, nenhuma das grandes potências teria clara vantagem em um duelo direto. Com o elenco que levaram para a Inglaterra, no entanto, Samoa parece em ótima forma, mas não acima da média. Vão precisar de um pouco mais para chegar bem em uma disputa de quartas-de-final.

DICA DO DIA: Aproveite para resolver todas suas pendências até quarta-feira. A Copa do Mundo dá uma pausa de dois dias nos jogos, mas volta com tudo no meio da semana.

O CARA: Tim Nanai-Williams. O fullback de Samoa (eleito homem da partida contra os EUA) fez o caminho inverso: nasceu na Nova Zelândia, mas preferiu jogar entre os samoanos. Nanai-Williams brigaria em igualdade por uma vaga de titular em qualquer seleção do mundo hoje.

A IMAGEM: AGORA COMEÇOU! Copa do Mundo de verdade tem Haka. Keven Mealamu, mais velho maori do grupo neozelandês, liderou a dança de guerra tribal hoje no estádio de Wembley, antes da vitória contra a Argentina.

Crédito: FACUNDO ARRIZABALAGA/EFE/EPA

Crédito: FACUNDO ARRIZABALAGA/EFE/EPA

A FRASE: “A Nova Zelândia sai de campo hoje muito desgastada e bastante aliviada. É dia de ir direto para a banheira de gelo”, Andrew Matheus, ex-camisa 10 dos All Blacks e atual comentarista de rúgbi da BBC.

LONDON EYE: Yoann Huget, um dos principais jogadores da França está fora do Mundial. O ponta não terá tempo de ser recuperar de uma lesão no joelho sofrida no jogo de sábado contra a Itália.

Bruno Romano
Em colaboração ao UOL