O Blog do Rúgbi

O dia dos samurais: vitória japonesa sobre África do Sul não foi “milagre”

UOL Esporte

A anfitriã Inglaterra já tinha feito a sua parte. Abriu as suas portas e deu o chute inicial da Copa do Mundo de Rúgbi 2015 – além de ter nos presenteado com esse jogo incrível, inventado ali há 192 anos. Mas coube ao Japão levar para este Mundial o atrativo que faltava: a certeza de que, mesmo os gigantes que comandam essa festa, podem cair.

O inédito triunfo japonês sobre a bicampeã mundial África do Sul neste sábado (34-32) tem tudo para mexer com os rumos deste Mundial. E o melhor dessa historia é que o equilíbrio do jogo não foi apenas culpa de uma apresentação mediana dos Springboks sul-africanos. A causa do estrago foi o jogo leal, preciso e valente dos japoneses.

Por isso, a notícia do dia não é a derrota dos Springboks para o Japão, mas a vitória japonesa sobre uma potência mundial. É mais do que um jogo de palavras. O placar de hoje no estádio de Brighton (e a coragem e ousadia dos guerreiros japoneses) tem o poder de se tornar o estopim para uma Copa ainda mais emocionante e disputada. E menos previsível.

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A verdade é que muito se esperava do Japão em 2019, como país sede da próxima Copa do Mundo de Rúgbi e nação emergente no esporte. A grande surpresa foi ver que alguns frutos já ficaram maduros. Há doze anos o país investe na Top League, a rica competição local que atrai grandes estrelas do rúgbi mundial, sobretudo astros da Oceania – o que explica a presença de vários atletas naturalizados no time de hoje.

Some a isso a entrada de uma franquia japonesa no próximo Super Rugby de 2016 (maior competição de clubes do hemisfério sul, unindo Nova Zelândia, Austrália, África do Sul e Argentina) e a escolha de dois grandes do rúgbi para a comissão técnica deste ano: o head coach Eddie Jones, ex-treinador da Austrália, e o treinador de forwards Steve Borthwick, ex-capitão da Inglaterra, ambos com passagens vitoriosas nas seleções de seus países.

Chamar o resultado de hoje de zebra é mais do que justo. Rotular de milagre, no entanto, é desrespeitar o que esse time fez para chegar até aqui.

Em todo esporte, um resultado desse pede paciência, dedicação e trabalho duro. No rúgbi, também se exige tudo isso, mas com algumas doses extras de suor, pancadas, um pouco de sangue e dores de todo tipo – ainda mais jogando contra a seleção mais bruta das grandes potências mundiais. 

Começou! Agora pra valer…

Ah, sim, tivemos mais bons jogos na rodada, ofuscados pelo dia histórico japonês. A forte seleção da Irlanda foi técnica, concentrada e objetiva na expressiva vitória (50-7) sobre o Canadá. E deu sinais de quem quer (e deve) chegar longe.

Fechando o segundo dia de Mundial, a França cumpriu bem o papel de favorita e dominou as ações contra a Itália, anotando 32-10 na sua estreia. Em um começo de jogo marcado por penalidades, os franceses foram se soltando aos poucos e passaram bem pelo time considerado a terceira força do grupo “D”. França e Irlanda devem brigar agora pela liderança desta chave.

Prazer, Geórgia

Não foi apenas o Japão que surpreendeu. No duelo de abertura deste sábado, a Geórgia bateu Tonga (17-10) e conquistou sua terceira vitória em mundiais na história. Uma “zebra” se lembrarmos que, no Mundial de 2011, Tonga chegou a vencer a vice-campeã França na fase de grupos.

Os georgianos impressionaram os tonganeses com muita força física. Logo, sem vantagem no seu ponto mais forte, Tonga ficou desnorteada. Detalhe: Tonga teve 73% de posse de bola, mas a Geórgia anotou incríveis 213 tackles.

Tonga v Georgia - Group C: Rugby World Cup 2015

DICA DO DIA: Refaça suas apostas. Se ainda tiver chance de arrumar o bolão com os amigos, ou até mesmo naquela hora de dar aquele palpite de especialista no assunto (no meio de uma galera que não conhece rúgbi), lembre-se do que aconteceu hoje em Springboks x Japão e Geórgia x Tonga.

O CARA: Karne Hesketh. O ponta do Japão não foi o grande destaque em campo, mas seu try contra a África do Sul, depois de o tempo normal ter se esgotado, já é o maior momento da história do rúgbi japonês.

A IMAGEM: ELES ACREDITAVAM! Os sortudos torcedores japoneses que tinham ingressos para o jogo de hoje tiveram o apoio de ingleses e fãs de rúgbi de todo o mundo no duelo que derrubou a África do Sul.

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A FRASE: “Somos um país muito pequeno, mas temos um coração enorme”, Mamuka Gorgodze, o “Gorgodzilla”, capitão da Geórgia, após a vitória sobre Tonga. 

LONDON EYE: Neste domingo é dia de ver o rúgbi da América do Sul em campo. Uruguai e Argentina fazem suas estreias no Mundial, depois do jogo de abertura entre Samoa e Estados Unidos. Os “Teros” uruguaios vão curtir um dia de gala de rúgbi ao encarar o País de Gales jogando em casa no Millenium Stadium, em Cardiff.

Já os “Pumas” argentinos enfrentam a atual campeã mundial Nova Zelândia, e sonham com sua primeira vitória na história contra os All Blacks. Nem Uruguai nem Argentina entram com grandes chances de vencer (apesar de os Pumas terem treinado muito para isso). Mas é sempre bom ver uma equipe da nossa área encarando de frente os gigantes. E, por que não, imaginar o dia em que este desafiante sul-americano entrará em campo vestindo verde e amarelo.

Bruno Romano
Em colaboração ao UOL