O Blog do Rúgbi

Artilharia inglesa derruba os fijianos voadores

UOL Esporte

Bruno Romano
Colaboração para o UOL, em São Paulo

Todo jogador, treinador ou fã de rúgbi do planeta ficou um pouco nervoso hoje. Um frio na barriga – menor do que em dia de jogo, claro – anunciava o que estávamos esperando há tempos: finalmente chegou a hora da Copa do Mundo de Rúgbi 2015. Tente imaginar então o que estavam sentindo os 15 titulares da Inglaterra, anfitriã deste ano e seleção campeã mundial em 2003. Com o elenco mais jovem deste Mundial (média de 26.2 anos), os ingleses abriram a Copa com duas missões: encarar os 82 mil expectadores no estádio de Twickenham e vencer a veloz, criativa e ousada seleção de Fiji, apelidada por essas qualidades de Flying Fijians, ou fijianos voadores. Transformando toda essa pressão em apoio, os ingleses não tiveram vida fácil, mas cravaram 35 a 11 no placar. Mais do que isso, mostraram que a mítica da “fortaleza” de Londres, como os jogadores chamam o estádio, pode ser uma grande aliada na busca pela taça William Webb Ellis.

Esta foi a oitava vitória consecutiva dos ingleses em Twickenham. O templo do rúgbi inglês tem uma fama que se comprova nos números. Desde 1995, começo da era profissional do esporte, o aproveitamento da Inglaterra por ali é superior a 70% – fora do quartel-general, a porcentagem de vitórias cai para perto de 50%. É mais: a média de pontos feitos chega próxima a 32 por jogo, contra 24 pontos longe de Twickenham. Isso os ingleses já sabiam. O problema era superar a tão temida e falada “pressão” da estreia. Mas o antídoto para isso, estava nas mãos da comissão técnica inglesa.

Stuart Lancaster (head coach) e Graham Rowntree (treinador de forwards, os camisas 1 a 8) já tinham avisado antes do jogo: 1. Estamos na nossa casa; 2. Todo mundo vai nos apoiar; 3. Temos muito orgulho de estar aqui representando nosso país; 4. Na verdade, Twickenham pode ser muito intimidador, sim, mas para o adversário. “Quem você acha que vai estar mais pressionado?”, disse Rowntree. Na prática, a partida foi tensa e truncada. E, mais na vontade do que na organização, a Inglaterra conseguiu manter a vantagem até o fim. Aí, toda aquela confiança extra-campo se transformou, aos poucos, em pontos – mesmo com Fiji fazendo frente em um cenário realmente intimidador.

Para entender o que aconteceu hoje em Londres, é preciso voltar algumas semanas. Antes de enfrentar esta multidão sedenta por rúgbi (e por vitória), a estratégia inglesa foi bem diferente: se “esconder” em Denver, no Colorado (EUA), em uma preparação intensa antes do Mundial. Treinando na altitude, os jogadores fizeram uma viagem para formar grupo, que contou com pesados treinos físicos, monitoramento em GPS e ao vivo de batimentos cardíacos e atividades extras como expedições de rafting. “Foram os treinos mais difíceis da minha vida”, comentou o experiente Tom Wood, que jogou hoje de titular com a camisa 6.

O isolamento trouxe resultados neste sexto triunfo da Inglaterra contra Fiji na história (segue invicta no confronto direto). Não só os ingleses, mas o mundo do rúgbi ficou satisfeito e um pouco mais aliviado: o Mundial começou com tudo o que se esperava, unindo intensidade, combatividade e coragem – características definitivas do mais coletivo dos esportes. Quem se importa tanto com um show de técnica e tática quando um jogo segue aberto até o final?

Ali no gramado, quem acha que o grande teste de fogo da Inglaterra passou com a estreia, esqueceu de dar uma olhada na tabela. Eles têm pela frente o País de Gales (26.09), seus rivais de longa data, e Austrália (03.10), bicampeã mundial e vencedora do Rúgbi Championship 2015. Os dois jogos estão marcados para Twickenham, antes de os ingleses fecharem a fase de grupos contra o Uruguai (10.10), que vai para a Copa como coadjuvante. Se os jogadores chamam o estádio de Twickenham de fortaleza, para vencer o Mundial, mais do que nunca vão ter de transformar este time (e toda a torcida) na verdadeira fortaleza.

A DICA DO DIA:

Nunca dê meio metro de espaço para um fijiano. Ele pode fazer estragos. Foi o que o camisa 9 de Fiji Nikola Matawalu causou no primeiro tempo, ao driblar três ingleses, correr meio campo e chegar na linha de try. Se a bola não tivesse caído de sua mão, a história do jogo poderia ter sido bem diferente.

O CARA:

Mike Brown. Calmo e preciso, o camisa 15 da Inglaterra fez dois tries, salvou um try de Fiji e ainda soube lidar com todas as situações de “fogueira” comuns na vida de quem joga na posição de fullback, o último homem da defesa no rúgbi.

A IMAGEM:

COMEÇOU! Para os fãs de rúgbi, chegou a hora mais esperada do ano. Esses dois “figuras” aí em cima não são jogadores de verdade (claro!), mas a bola gigante em pleno castelo de Cardiff, no País de Gales, sim. Como diz o slogan do Mundial: “To big to miss”, algo como grandioso demais para perder!

A FRASE:

“Essa Copa do Mundo tem o potencial de fazer o rúgbi crescer como nunca vimos antes”, príncipe Harry, membro da família real inglesa que sempre acompanhou de perto o esporte.

LONDON EYE:

Fique de olho nos três candidatos ao título que fazem suas estreias neste sábado. Depois do jogo de abertura entre Tonga e Georgia, a #RWC2015 terá: Irlanda x Canada, África do Sul x Japão e França x Itália. Os irlandeses vêm com tudo depois de vencer o Six Nations 2015 (torneio anual mais antigo do rúgbi, reunindo as seis melhores seleções da Europa); os sul-africanos são bicampeões mundiais (1995 e 2007) e famosos pelo jogo duro, aliando técnica com força física e mental; os franceses bateram na trave no último Mundial, perdendo a final por um ponto para a Nova Zelândia. A França sempre chega com ares de que não está no auge, mas na hora que a ovalada entra em jogo, é perigosa demais.